Numa escalada da guerra que decorre há décadas, o movimento islâmico Hamas lançou uma operação militar contra Israel, no sábado. Centenas de pessoas foram mortas em ambos os lados, sendo o número, que não para de aumentar, apenas comparável à sangrenta primeira guerra israelo-árabe de 1948, após a fundação do Estado de Israel e ao que os palestinianos chamam de 'Nakba', o início da ocupação ilegal.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), já há pelo menos 123 mil deslocados internos no enclave de Gaza, onde vivem mais de dois milhões de pessoas, tendo sido imposto por Israel um bloqueio total ao fornecimento de combustível, alimentos e eletricidade no território.
Mas, afinal, o que está por detrás do ataque do Hamas? Porquê agora? Eis o que se sabe.
Quais as razões do Hamas para atacar Israel neste momento?
Segundo o líder da ala militar do Hamas, Muhammad Deif, o grupo palestiniano decidiu levar a cabo uma ofensiva contra Israel para que "o inimigo compreenda que o período da violência sem responsabilização terminou". O responsável usou como exemplo os "ataques diários à mesquita Al-Aqsa", que "ousaram insultar o nosso Profeta", citou o The New York Times.
Ainda que o confronto brotado a 7 de outubro pareça ‘ter vindo do nada’, o que é facto é que este foi o ano mais mortífero para os palestinianos na Cisjordânia ocupada por Israel desde 2005, de acordo com a ONU. Entre a violência constante, “mais de 200 palestinianos e cerca de 30 israelitas foram mortos em manifestações, confrontos, operações militares, ataques e outros incidentes”.
A retaliação poderá, além disso, ser uma ação de propaganda do Hamas, por forma a aumentar a sua popularidade entre os palestinianos. Poderá também ser uma forma de criar pressão junto as autoridades israelitas, para libertar as centenas de palestinianos detidos em Israel.
De notar que, de acordo com a agência Reuters, o governo do Catar estaria tentar negociar a libertação de 36 mulheres e crianças palestinianas, em troca de 36 prisioneiros israelitas. Contudo, Israel negou que estivessem negociações em andamento.
Como é que Israel respondeu?
Depois do ataque surpresa do Hamas contra o território israelita, sob o nome 'Tempestade al-Aqsa', Israel bombardeou a partir do ar várias instalações daquele grupo armado na Faixa de Gaza, numa operação que denominou 'Espadas de Ferro'.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).
Na segunda-feira, o ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, anunciou a imposição de um "cerco total" à Faixa de Gaza, onde "não há eletricidade, não há água, não há gás".
As declarações de Gallant, que se referiu aos palestinianos como "animais humanos", foram condenadas pela Human Rights Watch, uma das maiores organizações de defesa dos direitos humanos no mundo, que as classificou como "abomináveis".
"Privar a população de um território ocupado de comida e de eletricidade é um castigo coletivo, que é um crime de guerra, assim como usar a fome como arma de guerra. O Tribunal Penal Internacional deve tirar nota deste apelo para cometer um crime de guerra", acusou a ONG, na rede social X (antigo Twitter).
Poderá a ofensiva alastrar-se?
Apesar da especulação de que o Irão poderia estar envolvido na ofensiva do Hamas, o embaixador daquele país na ONU negou, na segunda-feira, estas acusações.
Por seu turno, o Hezbollah, o grupo fundamentalista libanês que tem defendido a Palestina e, em particular, o Hamas, negou que os seus militantes tenham entrado em Israel, depois das acusações proferidas pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), que anunciaram, na segunda-feira, ter matado "vários militantes" vindos do Líbano.
Ainda assim, Israel bombardeou o sul daquele país, ataque que foi retaliado pelo Hezbollah com o bombardeamento de dois quartéis israelitas, com recurso a "mísseis guiados e morteiros que atingiram diretamente" os alvos.
A Jihad Islâmica Palestiniana, que afirma apoiar o Hamas na sua ofensiva, assumiu a responsabilidade pela operação de infiltração, reforçando os receios de ver a violência alastrar-se à frente israelo-libanesa.
Nessa linha, os Estados Unidos instaram o Hezbollah a não tomar a "má decisão" de abrir uma segunda frente contra Israel na fronteira com o Líbano.
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