"O Egito rejeita os apelos do Exército israelita para que os habitantes da Faixa de Gaza abandonem as suas casas e se dirijam para o sul", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) egípcio num comunicado.
"Tal medida constitui uma grave violação das normas do direito internacional humanitário e exporá as vidas de mais de um milhão de cidadãos palestinianos e das suas famílias aos riscos de permanecer ao relento, sem abrigo, em perigosas e duras condições humanitárias", sustentou o MNE egípcio.
O comunicado indica igualmente que o Egito pediu ao Governo israelita que "se abstenha de tomar medidas tão severas", devido às precárias condições humanitárias em que já vivem os cidadãos palestinianos daquele enclave, com o embargo de bens de primeira necessidade, eletricidade, alimentos e combustível imposto por Israel, ao mesmo tempo em que são alvo de bombardeamentos indiscriminados pelas forças israelitas.
De acordo com a nota, o Egito instou o Conselho de Segurança da ONU a cumprir a sua responsabilidade de deter esta medida anunciada pelo Governo israelita, uma vez que "teria graves consequências para a situação humanitária na Faixa de Gaza".
Por essa razão, as autoridades egípcias exortaram a ONU e os atores internacionais a intervirem para evitar uma maior escalada do conflito, com consequências imprevistas, no enclave palestiniano, onde a população se encontra sem condições mínimas de sobrevivência, sem luz, água ou comida, e onde as vítimas dos bombardeamentos já ultrapassaram os 1.400 mortos e 6.200 feridos.
O Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, já tinha defendido na quinta-feira que os palestinianos "devem ficar na sua terra", uma posição que o Rei jordano, Abdullah II, reiterou hoje perante o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, para evitar desestabilizar a região com a deslocação de milhões de refugiados palestinianos.
Também a Amnistia Internacional (AI) se insurgiu hoje contra a "lamentável ordem de evacuação" da Faixa de Gaza dada pelas autoridades israelitas, apelando para que esta seja "imediatamente revogada por Israel".
"A ordem do exército israelita às pessoas do norte da Faixa de Gaza e da cidade de Gaza para 'retirarem' para o sul do território não pode ser considerada um verdadeiro aviso e poderá equivaler a uma deslocação forçada da população civil, uma violação do direito internacional humanitário", afirmou a AI.
O anúncio inicial dava 24 horas às pessoas para abandonarem o norte de Gaza "para sua segurança e proteção" - uma exigência impossível, que até o porta-voz do Exército israelita admitiu não poder ser posta em prática num só dia, sustentou a organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos.
"Independentemente do prazo, Israel não pode tratar o norte da Faixa de Gaza como uma zona de fogo aberto por ter emitido esta ordem", argumentou a Amnistia, acrescentando que as forças israelitas "têm o dever de tomar todas as precauções possíveis para minimizar os danos causados aos civis onde quer que se encontrem em Gaza".
Segundo a secretária-geral da AI, Agnès Callamard, "com esta ordem, as forças israelitas estão a desencadear a deslocação forçada em massa de mais de 1,1 milhões de pessoas da cidade de Gaza e de toda a parte norte da Faixa de Gaza, o que semeou o pânico entre a população e deixou milhares de palestinianos internamente deslocados a dormir nas ruas, sem saberem para onde fugir ou onde encontrar segurança, no meio de uma implacável campanha de bombardeamentos por parte de Israel e de cruéis medidas de punição coletiva".
"Esta ordem deve ser revogada imediatamente", afirmou a responsável máxima da Amnistia.
O Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, lançou a 07 de outubro um ataque surpresa contra o território israelita, que designou como operação "Tempestade al-Aqsa", com o lançamento de milhares de 'rockets' e a incursão de combatentes armados por terra, mar e ar.
Em resposta, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação que batizou como "Espadas de Ferro".
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas que, recordou, foi internacionalmente classificado como organização terrorista.
As autoridades israelitas confirmaram até agora mais de 1.300 mortos e de 3.000 feridos desde o início da ofensiva do Hamas, apoiada pelo Hezbollah libanês e pelo ramo palestiniano da Jihad Islâmica.
Do lado palestiniano, o Ministério da Saúde confirmou hoje que, em Gaza, os ataques da retaliação israelita fizeram pelo menos 1.799 mortos e mais de 7.000 feridos e que também se registaram 47 mortos na Cisjordânia, bem como cerca de 600 feridos.
Segundo o porta-voz do exército de Israel, Richard Hecht, cerca de 1.000 combatentes do Hamas foram igualmente abatidos durante confrontos com as forças de segurança em território israelita.
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