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"Estamos a morrer". Palestiniana conta como Israel bombardeou "tudo"

A jovem e os pais têm sobrevivido à conta do pão que o seu pai conseguiu comprar na padaria, e da água que recolheram antes de o fornecimento ter sido interrompido.

"Estamos a morrer". Palestiniana conta como Israel bombardeou "tudo"
Notícias ao Minuto

15:50 - 15/10/23 por Notícias ao Minuto

Mundo Israel/Palestina

Com apenas 21 anos, Tala Imad Herzallah recorda-se de todos os bombardeamentos que Gaza já sofreu. Há uma semana, ouviu mais um perto da sua residência, em Tel Elhawa. Apesar de não querer recordar as memórias de ataques passados, a jovem palestiniana contou como tem sido a vida naquele território nos últimos dias, tendo assegurado que Israel bombardeou "tudo".

Após o brotar da ofensiva do Hamas contra Israel, este último cortou o fornecimento de água, alimentos, eletricidade e ajuda médica na Faixa de Gaza, tendo largado cerca de seis mil bombas na região. As condições de vida têm vindo a piorar nos últimos dias e o sistema de saúde, daquela que é uma das áreas mais povoadas do mundo, está à beira do colapso.

A jovem e a família têm sobrevivido à conta do pão que o seu pai conseguiu comprar na padaria, e da água que recolheram antes de o fornecimento ter sido interrompido, na quarta-feira. Têm também no corredor da casa, o local "mais abrigado", segundo contou à ABC News.

"Sentamo-nos os três e ficamos ali, a tapar os ouvidos para não ouvirmos o som dos bombardeamentos", confessou.

Segundo a jovem, a eletricidade está apenas disponível durante uma hora por dia, e a sua família é das poucas que ainda tem acesso à Internet. Não é, contudo, o suficiente para contactar familiares e amigos, nem para carregar os seus telemóveis.

"Ao cair da noite, não nos conseguimos ver, e é quando temos medo. Rezamos para que nos vejamos de manhã", lamentou.

A mãe de Herzallah instruiu a filha a preparar malas de emergência, no início da semana, que ficaram alinhadas ao pé da porta do domicílio. Nelas, a jovem guardou documentos e certidões de nascimentos, bem como mudas de roupa, ouro e dinheiro.

"Também guardei os meus livros. A minha universidade foi bombardeada, mas não sei, guardei-os com o meu computador portátil", disse a estudante da Universidade Islâmica de Gaza, onde era aluna de literatura inglesa e tradução.

"[Israel] bombardeou tudo", complementou. "Caiu uma bomba a 146 metros da minha casa. O meu vizinho estava ali, a comprar comida no mercado. Não houve avisos e ele morreu no local", recordou.

O seu pai foi, depois, ao funeral do jovem de 25 anos, mas Tala não foi capaz.

"Não consegui ir, estava muito assustada. Mas o meu pai foi. Disse que viu o pai da vítima a olhar para o corpo sem dizer nada. Estava completamente chocado", lembrou.

Na manhã de sexta-feira, a jovem acordou com a notícia da ordem de evacuação por parte de Israel, que condenou.

"Estão a forçar-nos a deixar a nossa região e a pressionar-nos a ir para o Egito, passo a passo. A história está a repetir-se. É como se fosse 1948 novamente", escreveu, numa mensagem que enviou à ABC News.

"Não se trata do Hamas e não se trata dos dias de hoje, mas de décadas de luta. Para a Palestina, ainda sonho com liberdade, emprego, viagens, eletricidade, água, combustível e todas as necessidades para uma vida digna. Não pedimos para resolverem todos os problemas, mas para nos darem direitos básicos", apelou.

No sábado, Tala informou o canal norte-americano que seguiu as instruções do regime israelita, mas quase foi bombardeada enquanto rumava até ao sul. Voltou, por isso, para casa.

"Por favor, por favor, tentem fazer com que todos saibam o quanto estamos a sofrer, como estamos a morrer. Por favor, digam a toda a gente. Estamos a morrer. Temos de nos mover. O mundo tem de se mover. Estamos a morrer", disse, numa mensagem de voz, ao mesmo meio.

Sem carro, a sua família está à mercê dos outros, que não param para os ajudar.

"Não sei se continuaremos vivos ou não, não há carros. E se há carros, é para as pessoas que são forçadas a mover-se. Pedimos aos carros para pararem e nos levarem. Mas ninguém o faz, porque é muito perigoso", disse, numa última comunicação em vídeo.

Sublinhe-se que, depois do ataque surpresa do Hamas contra o território israelita, sob o nome 'Tempestade al-Aqsa', Israel bombardeou a partir do ar várias instalações daquele grupo armado na Faixa de Gaza, numa operação que denominou 'Espadas de Ferro'.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE). Esta quarta-feira, Netanyahu acordou com a oposição a criação de um governo de emergência nacional e de um gabinete de guerra.

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