Palavras de Guterres? "Escandalosas", dizem famílias de reféns do Hamas

As famílias dos reféns do grupo islamita Hamas classificaram hoje como "escandalosas" as palavras do secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a respeito dos ataques de 07 de outubro em Israel que deram origem à guerra atual.

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Lusa
24/10/2023 22:05 ‧ 24/10/2023 por Lusa

Mundo

Israel/Palestina

"Que vergonha dar legitimidade a crimes contra a humanidade quando se trata de judeus! As declarações do secretário-geral da ONU são escandalosas!", afirmou o grupo de famílias dos cerca de 220 sequestrados num comunicado.

Guterres afirmou hoje perante o Conselho de Segurança da ONU que os ataques do Hamas "não vêm do nada" e lembrou que os palestinianos foram "sujeitos a 56 anos de ocupação sufocante".

"Crianças foram queimadas vivas, mulheres foram violadas e civis foram torturados e assassinados a sangue frio. Tudo com o objetivo de aniquilar todos os israelitas e judeus na área capturada pelo Hamas", observaram as famílias.

Consideraram ainda que o secretário-geral da ONU "ignora vergonhosamente o facto de que em 7 de outubro foi perpetrado um genocídio contra o povo judeu e até encontrou uma forma indireta de justificar os horrores que os judeus sofreram".

As famílias argumentam que os especialistas jurídicos declararam que os "atos horríveis" do Hamas, que incluíram massacres, tortura e a tomada de reféns civis - incluindo idosos, mulheres, crianças e bebés - "constituem não apenas crimes de guerra, mas também crimes contra a humanidade". 

Esse ataque brutal deu início à guerra entre Israel e as milícias em Gaza, que já fez mais de 1.400 vítimas em solo israelita - a maioria delas civis mortos nesse mesmo dia no maior massacre da história de Israel -, além de 222 sequestrados no enclave e cerca de 100 desaparecidos.

Os intensos e indiscriminados bombardeamentos retaliatórios israelitas na Faixa de Gaza causaram cerca de 5.800 mortes - pelo menos 70% são mulheres, crianças e idosos - e mais de 16.300 feridos, a maior catástrofe humana também vivida no castigado enclave.

Na polémica reunião de hoje do Conselho de Segurança, Guterres condenou inequivocamente os "atos de terror" e "sem precedentes" de 7 de outubro perpetrados pelo grupo islamita Hamas em Israel, salientando que "nada pode justificar o assassínio, o ataque e o rapto deliberados de civis".

Contudo, o secretário-geral da ONU admitiu ser "importante reconhecer" que os ataques do grupo islamita "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante".

"Viram as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência; a sua economia foi sufocada; as suas pessoas foram deslocadas e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer", prosseguiu Guterres.

O líder da ONU sublinhou, porém, que "as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas", frisando ainda que "esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano".

Na sequência dessas palavras, o Governo israelita pediu a demissão do líder da ONU e cancelou uma reunião que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, hoje teria com Guterres.

Face ao cancelamento dessa reunião, o gabinete de Guterres informou que o secretário-geral se reunirá com representantes das famílias dos reféns detidos em Gaza na tarde de hoje.

"Eles serão acompanhados por um representante da Missão Permanente de Israel nas Nações Unidas", diz um comunicado do porta-voz de Guterres.

Familiares desses reféns viajaram para Nova-Iorque, na companhia do ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, para participarem na reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito no Médio Oriente.

Após a reunião, Rachel Goldberg, mãe do jovem israelo-americano Hersh Goldberg-Polin, um dos reféns do Hamas, relatou o sofrimento que vem sofrendo desde 07 de outubro, quando o grupo islamita levou o seu filho que estava num festival de música no momento do ataque.

"A pergunta mais cruel que recebo todos os dias, sem malícia intencional, é: 'como estás?' Imagine a sua própria mãe e depois imagine-a a ouvir que só há duas opções: ou você está morto ou teve o seu braço arrancado e foi sequestrado sob a mira de uma arma para Gaza e ninguém sabe onde você está ou se sangrou até a morte há 18 dias, ou se morreu ontem ou se morreu há cinco minutos", disse.

Testemunhas disseram a Rachael Goldberg que o seu filho??????? perdeu parte de um braço quando os combatentes do Hamas lançaram granadas num abrigo temporário, mas que o jovem amarrou algum tecido à volta do ferimento e saiu do abrigo antes de ser colocado numa carrinha do grupo islamita.

A mãe de Hersh Goldberg-Polin lamentou a falta de ação para trazer os reféns de volta às suas famílias e lamentou o "ódio derramado sobre Israel".

Goldberg disse ainda que Israel avisou os civis palestinianos para se deslocarem para sul para não serem afetados pela retaliação israelita, mas, por outro lado, "não foram dados avisos às mulheres, crianças, idosos, amantes da música e aos bebés no dia 07 de outubro, antes dos massacres intencionais de vidas inocentes".

Horas antes destas declarações de Goldberg, Guterres havia dito que proteger os civis não significa ordenar que mais de um milhão de pessoas tenham de se deslocar para o sul de Gaza, "onde não há abrigo, nem comida, nem água, nem medicamentos, nem combustível, e depois continuar a bombardear o próprio sul", numa crítica à ordem emitida pelas autoridades israelitas.

Leia Também: Israel admite reavaliar relações com ONU após declarações de Guterres

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