ONG luta contra o abandono escolar de crianças pobres na Venezuela
Fundada durante a pandemia de covid-19, a organização não-governamental International Freedom Council (IFC) trava uma luta diária contra o abandono escolar de alunos pobres na Venezuela, onde 1,9 milhões de crianças não vão à escola.
© Pedro Rances Mattey/Anadolu Agency via Getty Images
Mundo Venezuela
"A nossa ideia é ajudar as crianças a frequentar a escola. As necessidades das crianças venezuelanas são muito elementares, precisam de comida, de água potável e material escolar para se manterem na escola. E é esse o objetivo desta organização. Trabalhámos em cinco estados e queremos continuar a desenvolver os nossos programas em todos os estados da Venezuela", explicou à agência Lusa a diretora da organização, Luísa Paéz.
Na Venezuela, assinalou Luísa Paéz, a longa crise social e económica teve um impacto "muito grande nas pessoas com baixos rendimentos" com consequências na educação das crianças.
"Não há emprego e o dinheiro que recebem do trabalho serve apenas para a alimentação. A educação das crianças passou para segundo plano. Há cerca de 1,9 milhões de crianças sem receber escolarização na Venezuela", precisou.
Atualmente, disse, a IFC tem um intercâmbio com 32 escolas venezuelanas do qual beneficiaram já quase cinco mil pessoas com a doação de 2.500 'kits' de material escolar e outras cinco mil com acesso a água potável.
"Temos três programas, um de educação que está focado no fornecimento de material escolar para crianças e um de saúde que se centra no saneamento e na água", este último "extremadamente importante" num país onde "a água não chega a 86% da população", explicou.
O terceiro é na área da alimentação e prevê "a compra de alimentos básicos para os pequenos-almoços" de escolas sem recursos.
"Na Venezuela, 72% das crianças abandonam a escola por falta de alimentos, 55% por falta de serviços públicos, nomeadamente água, e 46% porque os pais não têm dinheiro para comprar material escolar", disse, assinalando o "enorme dilema" com que são confrontados os diretores das escolas quando têm crianças sem recursos para comprar material escolar e outras com recursos.
"Na sala de aula, a diferença cria problemas e, por isso, as escolas não aceitam as crianças que não tenham material escolar", disse.
Segundo Luísa Paéz, nas escolas privadas existe um esforço para procurar recursos e conseguir o material escolar para os seus alunos, mas as escolas públicas não têm esses recursos.
"Desde a pandemia (de covid-19) que [as escolas públicas] não matriculam as crianças que não têm os materiais escolares. Em Caracas, por exemplo, temos uma população muito grande com muito poucos recursos à volta da cidade. Nesses lugares, se o pai não tiver dinheiro suficiente para comprar os materiais escolares, isso afeta o desenvolvimento educativo das crianças", frisou.
Foi para tentar contrariar esta realidade que a IFC surgiu, na Flórida, Estados Unidos, em plena pandemia de covid-19 - declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no início de 2020 - em resultado de um projeto familiar ao qual Luísa Paéz se dedica agora, após 25 anos de experiência em serviços sociais.
A responsável lembrou, na entrevista à Lusa, "a ligação muito antiga entre venezuelanos e os portugueses, devido à importante migração de Portugal para a Venezuela" e apelou para o apoio português à organização.
Sem dados sobre a saida de venezuelanos do país nos anos recentes, assegurou que "muitos lares venezuelanos foram desfeitos pela grande migração" de familiares, irmãos e inclusive de pais que deixaram os filhos ao cuidado dos avós.
"A situação familiar mudou drasticamente com esta migração e isso, tem gerado problemas a nível social e educativo. As crianças na Venezuela estão muito abandonadas, precisam de muito apoio de organizações como a nossa para poderem continuar a estudar, para poderem transformar este país", concluiu.
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