No debate com o primeiro-ministro, na segunda sessão parlamentar de outubro, sobre "Política de Rendimentos e Preços", o deputado do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) Julião Varela disse que o governo liderado por Ulisses Correia e Silva não vai ser capaz de cumprir os compromissos que fez tanto em 2016 como em 2020.
Entre eles, apontou a criação de 45 mil postos de trabalho, a atualização anual dos salários e pensões, incluindo o salário mínimo, a redução da carga fiscal em 1% ao ano e a criação de um Rendimento Social de Inclusão no valor de 5.500 escudos (49 euros) para 25 mil famílias no primeiro ano de governação.
Comparando as governações do PAICV, que esteve no poder até 2016, e do Movimento para a Democracia (MpD), desde 2016, o também secretário-geral do maior partido da oposição cabo-verdiana criticou ainda o "aumento progressivo e sistemático das despesas publicas".
Nos últimos três anos, deu conta que as despesas públicas passaram de 59 mil milhões de escudos (535 milhões de euros) em 2021 para 85 mil milhões de escudos (770,8 milhões de euros) no orçamento proposto para 2024.
"Este é o maior problema do MpD, que não consegue reduzir as despesas. Montou um Governo gordo e a cada dia que passa vem multiplicando estruturas governamentais que fazem aumentar ainda mais as despesas do Estado", constatou.
Notando que os dois partidos do arco do poder no país têm opções "diametralmente opostas", sobre a carga fiscal, Julião Varela disse que há uma "significativa" perda do poder de compra das famílias cabo-verdianas, com a inflação acumulada desde 2016 em mais de 12%.
O deputado e presidente do PAICV, Rui Semedo, reforçou as ideias do seu colega de bancada, dizendo que os salários não aumentaram para acompanhar os aumentos dos preços dos produtos, o que tem levado ao aumento da pobreza e deterioração da qualidade de vida das pessoas.
O deputado da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) UCID João Santos Luís disse que o Governo tem vindo "de forma muito tímida" a tomar algumas medidas de rendimentos e preços, mas mostrou-se preocupado com a tentativa de garantir estabilidade macroeconómica do país.
"Não existem políticas de estabilização consistente de preços no país", constatou, instando o executivo a adotar políticas monetárias e fiscais para a estabilidade dos preços.
"Consideramos que o Governo vem falhando de forma clara e sistemática no que concerne à estabilização dos rendimentos dos trabalhadores dos diversos setores de atividade", insistiu o também presidente da UCID, dizendo que os cabo-verdianos continuam a pagar um preço alto por produtos e serviços.
O tema foi proposto pelo MpD e é um dos pontos altos da segunda sessão plenária de outubro, que termina na terça-feira, com o debate sobre a situação da Justiça.
O parlamento cabo-verdiano é composto por 72 deputados, sendo 38 do MpD, 30 do PAICV e quatro da UCID.
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