"As equipas da MSF constataram até que ponto as expulsões violentas se tornaram a norma, assim como a flagrante falta de proteção das pessoas que procuram segurança na Grécia", escreve a organização num relatório hoje divulgado.
"Apesar das numerosas e credíveis provas, as autoridades gregas, a União Europeia [UE] e os seus Estados-membros não responsabilizam quaisquer autores destas falhas", acrescenta MSF.
Dezenas de milhares de migrantes, principalmente da Síria, do Afeganistão e do Paquistão, entraram na Grécia nos últimos anos, a partir das fronteiras marítimas e terrestres com a Turquia.
As autoridades gregas são regularmente acusadas pelos meios de comunicação social e pelas organizações não-governamentais (ONG) de defesa dos direitos humanos de levarem a cabo repulsões ilegais de migrantes para águas turcas, a fim de limitar o número de chegadas ao território grego.
No dia 14 de junho, centenas de pessoas morreram afogadas no Mediterrâneo, a sul da Grécia, no naufrágio de uma traineira que ligava a Líbia à Itália.
O barco, que se estima que transportasse 750 pessoas, afundou-se numa das partes mais profundas do Mediterrâneo, sendo que pelo menos 82 pessoas morreram afogadas e centenas de outras desapareceram, provavelmente presos debaixo de água.
O desastre foi considerado pela Organização Internacional de Migrações como uma das maiores tragédias no Mediterrâneo Oriental na última década.
Apesar de as autoridades gregas garantirem que a guarda costeira fez várias ofertas de ajuda e que todas foram rejeitadas, muitos dos sobreviventes contestam as declarações e, em setembro, decidiram processar a Grécia por não os ter resgatado.
De acordo com a MSF, a maioria dos cerca de 8.000 migrantes -- incluindo 1.500 crianças -- que beneficiaram de ajuda médica da ONG nos últimos dois anos disseram ter sido sujeitos a várias repulsões, e muitos "ficaram presos em ciclos de violência à sua chegada".
A organização afirma ter recolhido testemunhos de "violência, agressões físicas, obrigação de ficar nu para ser revistado e revistas corporais intrusivas", incluindo em crianças, feitas por "polícias de uniforme e por indivíduos mascarados não identificados".
O Ministério das Migrações grego ainda não reagiu às acusações da MSF, que cita também relatos de migrantes colocados à força em botes salva-vidas e deixados à deriva em direção a águas turcas.
A ONG lamenta ainda que esforços das suas equipas para prestar assistência urgente às pessoas em perigo nas ilhas gregas tenham sido adiados pelas autoridades com o pretexto de terem de ser feitas "verificações".
Segundo dados oficiais, mais de 29.700 migrantes e refugiados chegaram à Grécia nos primeiros nove meses de 2023, mais do dobro dos 11.000 registados durante o mesmo período do ano passado.
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