Puigdemont, "episódio do passado" que volta a ser protagonista
O ex-presidente do governo regional da Catalunha Carles Puigdemont foi considerado "um episódio" do passado há poucos meses pelo socialista Pedro Sánchez, mas recuperou inesperadamente o protagonismo com as eleições espanholas de 23 de julho.
© REUTERS/Yves Herman
Mundo Espanha/Governo
Para ser reconduzido primeiro-ministro de Espanha, Sánchez negociou com os separatistas catalães, incluindo o partido de Puigdemont, uma amnistia para os envolvidos na tentativa de autodeterminação da Catalunha que culminou com uma declaração unilateral de independência em 2017.
O acordo da amnistia poderá favorecer o próprio Puigdemont, que vive na Bélgica desde 2017 para fugir à justiça espanhola e que negociou ele próprio o pacto com os socialistas hoje anunciado.
Nascido na Catalunha em 1962, Puigdemont estudou Filologia Catalã e foi jornalista, deputado regional e presidente da câmara de Gerona antes de ter chegado a presidente do governo autonómico, em 2016, designado pelo seu antecessor e sem se ter submetido a eleições como cabeça de lista.
Em um ano e dez meses de mandato protagonizou a situação inédita de aprovar a independência da Catalunha. Dias depois fugiu para a Bélgica, escapando até hoje à justiça espanhola.
Apesar dos títulos da imprensa focados em Puigdemont ou de o partido Juntos pela Catalunha (JxCat) ser sempre descrito como "o partido de Puigdemont", o antigo presidente do governo autonómico nem sequer tem um cargo formal nesta formação, que tem Jordi Turull como secretário-geral e Laura Borràs como presidente.
Puigdemont é considerado o líder de facto do partido e a casa onde vive na Bélgica é conhecida como "o quartel geral de Waterloo" do JxCat.
Apesar da presença regular de Puigdemont no espaço mediático, a influência e o protagonismo do ex-presidente catalão, a braços com batalhas jurídicas nas instâncias europeias e belgas para não ser deportado para Espanha e julgado, parecia ser cada vez menor.
Em paralelo, o JxCat perdeu terreno nas últimas eleições e optou por deixar, no ano passado, a coligação no governo autonómico, perdendo assim também poder institucional.
Na véspera do arranque da campanha eleitoral, em 06 de julho, Sánchez tinha afirmado numa entrevista que Puigdemont era passado e agora não era mais do que uma personagem "episódica" da história de Espanha, um dos "velhos fantasmas do passado" a que a direita gosta de regressar.
No mesmo dia, Puigdemont disse numa entrevista que passados cinco anos de governos socialistas não havia motivos para confiar nas promessas de Sánchez às forças independentistas.
Puigdemont afirmou não ver sentido na viabilização de um governo do partido scialista (PSOE) pelo JxCat a troco de "quatro migalhas que, ainda por cima, não se cumprirão".
"O mais pragmático hoje é a confrontação", acrescentou, numa condenação da "mesa de diálogo" com o Governo de Madrid aberta na última legislatura pela Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).
A ERC lidera o executivo regional e agora negociou também a amnistia com os socialistas, depois de na legislatura anterior já ter fechado um acordo com Sánchez para indultar os independentistas que tinham sido condenados e estavam presos.
Após cinco anos de governo, a "mesa de diálogo" com a Catalunha e os indultos para os independentistas, o PSOE passou a ser o partido mais votado na região e os nacionalistas e separatistas, além de divididos, perderam todos deputados e votos nas últimas eleições, incluindo o JxCat.
Sánchez continuou porém a depender dos partidos nacionalistas e independentistas bascos e catalães para ser reconduzido primeiro-ministro.
Após meses de negociações, foram anunciados acordos com a ERC e o JxCat e o parlamento espanhol deverá reconduzir Sánchez como primeiro-ministro na próxima semana.
Uma vez aprovada a lei da amnistia, abre-se a possibilidade de o próprio Puigdemont voltar a Espanha e não ser detido.
Outra das promessas do passado de Sánchez era levar Puigdemont de novo para Espanha para prestar contas à justiça.
Leia Também: Justiça espanhola envolve Puigdemont em novo processo judicial (de 2019)
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