Israel. UE quer reforço da Autoridade Palestiniana em Gaza
A diplomacia da União Europeia (UE) insistiu hoje em pedir uma solução abrangente para o conflito entre Israel e o grupo islamita Hamas que passe pelo reforço da influência da Autoridade Palestiniana num Estado independente em Gaza.
© Simon Wohlfahrt/Bloomberg via Getty Images
Mundo Israel
"É evidente que teremos de procurar novos parâmetros numa solução que promova a paz. Propus aos ministros um esquema mental, uma estrutura. Acredito que os ministros concordaram em apoiar esta abordagem, com vista a trabalhar rapidamente", anunciou o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e Vice-Presidente da Comissão Europeia, Josep Borrell, em conferência de imprensa.
Os líderes dos 27 países abordaram a situação em Gaza depois de terem exigido, numa declaração conjunta no domingo, pausas humanitárias imediatas para que a ajuda chegue aos civis na Faixa de Gaza.
Borrell informou, no final de um Conselho dos ministros dos Negócios Estrangeiros em Bruxelas, que propôs aos ministros um quadro de trabalho que resumiu em "três sim e três não".
Por um lado, afirmou que não pode haver uma deslocação forçada dos palestinianos para fora de Gaza, nem uma ocupação por Israel e um regresso do Hamas a esse enclave, nem uma "dissociação" da questão da Faixa das questões gerais.
Por outro lado, Borrell disse "sim" ao regresso a Gaza de uma Autoridade Palestiniana - que já governa a Cisjordânia - reforçada, nos termos de referência e legitimidade decididos pelo Conselho de Segurança da ONU; "sim" a um envolvimento mais forte de países árabes em busca de uma solução; e "sim" a um maior compromisso da UE na região, em particular com a construção do Estado Palestiniano.
"Temos estado demasiado ausentes na solução deste problema que delegámos aos Estados Unidos, mas agora a Europa tem de se empenhar mais", defendeu Borrell, acrescentando que, caso contrário, "viveremos um ciclo de violência que será perpetuado de geração em geração, de funeral em funeral".
O chefe da diplomacia europeia acrescentou que a "tragédia" que está a ocorrer devido à guerra entre Israel e o Hamas "deve ser uma ocasião para que todos compreendam que é preciso procurar uma solução que só pode basear-se na construção de dois Estados".
Borrell sustentou igualmente que tem de haver em Gaza dirigentes palestinianos com uma "legitimidade definida e decidida pelo Conselho de Segurança da ONU", que seja "fortemente apoiada" pela comunidade internacional (em vez do movimento islamita Hamas, desde 2007 no poder naquele território e classificado como organização terrorista pela UE, os Estados Unidos e Israel, entre outros).
Apelou, assim, para o envolvimento dos Estados árabes no futuro da Palestina, bem como da UE e da comunidade internacional, para estabilizar a Faixa de Gaza, alvo de bombardeamentos contínuos e de uma ofensiva terrestre de Israel, desde que o Hamas atacou, a 07 de outubro, território israelita, fazendo 1.200 mortos, na maioria civis, cerca de 5.000 feridos e mais de 200 reféns.
"Não haverá solução sem um compromisso forte dos Estados árabes, que não pode ser só financeiro", argumentou, referindo-se aos países da região.
Relativamente à UE, instou a "um maior compromisso" dos Estados-membros e a que se ponha fim ao ciclo de violência no Médio Oriente.
O Alto Representante apresentará esta proposta na viagem que realizará esta semana pela região - que incluirá Israel, Palestina, Bahrein, Arábia Saudita, Qatar e Jordânia -- para discutir a guerra na Faixa de Gaza e o acesso humanitário àquele território com os países da região.
O objetivo da UE é avançar com um plano que, embora Bruxelas reconheça que será difícil o bloco concretizar sozinho, possa obter o apoio dos países árabes e dos Estados Unidos.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus demonstraram hoje mais uma vez vários graus de apoio à suspensão das operações militares em Gaza, para que as organizações humanitárias possam trabalhar.
Enquanto a França defendia uma "pausa de longo prazo" e a Espanha um "cessar-fogo humanitário", outros países não foram tão longe e houve alguns, como a República Checa, que se limitaram a insistir no "direito à autodefesa perante a agressão", enquanto o Hamas continuar a atacar Israel.
Borrell argumentou que a passagem fronteiriça de Rafah entre o Egito e Gaza "claramente não é suficiente para permitir a passagem do número necessário de camiões" com abastecimentos para a população da Faixa.
Em retaliação ao ataque de 07 de outubro - de dimensões sem precedentes a Israel desde a criação do Estado, em 1948 -, o Governo israelita declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.
A guerra em Gaza, que hoje entrou no 38.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 11 mil mortos, na maioria civis, e mais de 1,6 milhões de deslocados, segundo o mais recente balanço das autoridades locais, controladas pelo Hamas.
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