Os Países Baixos vão a votos, na quarta-feira, pondo fim a 13 anos de liderança do conservador Mark Rutte, primeiro-ministro com maior longevidade da história neerlandesa, visto por analistas como sobrevivente político e promotor de estabilidade, respetivamente pelos vários escândalos e desafios que enfrentou.
De momento, as sondagens indicam que nenhum dos três principais partidos -- o Partido da Liberdade e da Democracia (VVD), o Novo Contrato Social (NSC) e a Aliança dos Verdes e do Partido dos Trabalhadores (GL-PvdA) -- conseguirá mais de 20% dos votos, o que poderá obrigar estes candidatos a acordos de coligação com outros dos 14 que se apresentam ao sufrágio.
Uma das opções é precisamente uma coligação com a extrema-direita do Partido pela Liberdade (PVV).
Líder durante 17 anos do VVD, Mark Rutte surpreendeu, em julho passado, ao anunciar a sua demissão do cargo, com o súbito colapso da sua quarta coligação governamental devido a uma divisão interna sobre a política migratória, num contexto da ascensão dos partidos de direita.
Uma das candidatas às eleições antecipadas de quarta-feira é a cabeça de lista do partido de Rutte, a até agora ministra da Justiça, Dilan Yesilgöz-Zegerius, que nasceu na cidade turca de Ancara e imigrou com os pais (de origem turca e curda) para os Países Baixos ainda criança, depois de a família ter tido estatuto de refugiada e de ter pedido asilo.
Mas apesar do seu historial de imigração, esta candidata do VVD, de 46 anos, quer introduzir medidas como sistemas de refugiados, abolir a residência permanente e só permitir a atribuição de cidadania após 10 anos. Para responder a problemas como a habitação, numa altura em que se estima que faltem 390 mil casas, Yesilgöz-Zegerius propõe-se a baixar as rendas e a aumentar a construção de casas.
O segundo candidato à frente nas sondagens é Pieter Omtzigt, do recém-criado NSC, partido político fundado em agosto deste ano e centrado na boa governação e na segurança social.
Omtzigt, de 49 anos, serviu na Câmara de Representantes desde 2003 enquanto membro do partido Apelo Democrata Cristão (CDA), mas em 2021 deixou esta bancada e continuou como independente, para dois anos depois ter então fundado o NSC.
Depois de ter sido visto como representante da ala eurocética do CDA, por ter criticado as políticas do Banco Central Europeu e defendido a não-participação em certos programas da União Europeia, Pieter Omtzigt apresenta-se a estas eleições como conservador em matéria de imigração e alterações climáticas, mas esquerdista na redução da pobreza e na melhoria dos cuidados de saúde, pretendendo baixar o número de imigrantes, fazer uma reforma fiscal e ajudar as famílias com menos rendimentos.
Ao contrário de Dilan Yesilgöz-Zegerius, Pieter Omtzigt rejeita coligações com a extrema-direita.
O terceiro candidato nas projeções é o do GL-PvdA, Frans Timmermans, que em agosto passado deixou o seu cargo de vice-presidente da Comissão Europeia para a ação climática e aceitou encabeçar a lista social-democrata e verde para as eleições legislativas antecipadas, após nove anos em diferentes pastas no executivo comunitário.
Em 2019, foi inclusive o candidato informal do Partido Socialista Europeu a presidente da Comissão Europeia, mas agora volta ao país natal para se propor a reduzir as emissões poluentes na Holanda e para aumentar o salário mínimo e fazer mexidas nos escalões do IRS.
Um quarto candidato é o da extrema-direita do PVV, Geert Wilders, de 60 anos, que chegou a apoiar o primeiro governo de coligação liderada por Rutte, entre 2010 e 2012, mas neste último ano retirou o seu apoio parlamentar invocando desacordos sobre os cortes orçamentais.
Wilders é conhecido pelas suas críticas ao Islão e à União Europeia, tendo vindo a tornar-se numa figura controversa nos Países Baixos e no estrangeiro e, por isso, desde 2004 anda constantemente rodeado de seguranças.
Para estas eleições, defende a exclusão de asilados e o abandono dos tratados da União Europeia e também das convenções das Nações Unidas sobre refugiados e asilo.
Desde que a extrema-direita emergiu na Holanda em 2001, passou apenas 87 dias no governo.
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