Em causa está a entrada em órbita do satélite Malligyong-1, que a Coreia do Norte diz ter já captado imagens de bases militares norte-americanas, da Casa Branca e do Pentágono.
Pyongyang assegurou que o lançamento do satélite de reconhecimento é um direito legítimo para "reforçar as suas capacidades de autodefesa".
O lançamento constitui uma violação das sanções do Conselho de Segurança da ONU contra Pyongyang. Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão condenaram as ações do país.
Em contraste com o passado, quando o Governo chinês condenou o lançamento de um satélite por Pyongyang, em 2012, a China, que partilha uma fronteira de 1.415 quilómetros com a Coreia do Norte, optou agora pelo "silêncio" e "apoio tácito", apontaram analistas.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse apenas que Pequim "tomou nota" do lançamento e das reações das "partes interessadas".
"A Península da Coreia está na situação atual por um motivo", acrescentou, numa crítica implícita aos EUA.
O porta-voz da embaixada da China em Washington explicou que a "única forma" de evitar o agravamento da situação é reconhecer a "ausência de um mecanismo de paz na Península Coreana" e retomar as conversações no âmbito da "abordagem de 'via dupla'".
A solução proposta pela China implica a paragem dos programas de armas nucleares e dos testes de mísseis da Coreia do Norte e a suspensão dos exercícios militares conjuntos entre os EUA e a Coreia do Sul, ao mesmo tempo que se prossegue "uma via paralela" de desnuclearização e paz na Península da Coreia.
Para Min-yong Lee, professor convidado na Universidade Feminina de Sookmyung, na Coreia do Sul, a ausência de uma condenação por parte da China "estimula nova provocação armada" do regime norte-coreano.
"A China devia ser o país mais ativo nesta questão", frisou, num artigo de opinião publicado pela revista The Diplomat. "Enquanto os Estados Unidos pretendem impedir o desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais por Pyongyang numa perspetiva de defesa do seu território, é mais provável que a China sofra as repercussões do desenvolvimento de armas nucleares pela Coreia do Norte", acrescentou.
Para o professor chinês de Relações Internacionais Wang Li, o desenvolvimento da capacidade militar da Coreia do Norte coloca a China perante um "dilema", face aos interesses "divergentes" de Pequim.
"Não seria inteligente abandonar um país vizinho, cuja economia e segurança dependem da China, e que se opõe aos Estados Unidos", disse à agência Lusa Wang, formado em Ciência Política pela universidade inglesa de Aberdeen e professor na Universidade de Jilin, província chinesa situada junto à fronteira com a Coreia do Norte.
Pequim continua a ser o principal aliado diplomático e maior parceiro comercial do regime de Kim Jong-un. Nos anos 1950, os dois países lutaram juntos contra os EUA.
Num período de crescente fricção entre Pequim e Washington, marcado por disputas sobre o estatuto de Taiwan ou a soberania do Mar do Sul da China, Pequim e Pyongyang "continuam a partilhar preocupações de segurança", frisou Wang.
Para Min-yong Lee, no entanto, a China está a cometer um "erro estratégico" ao ignorar o desenvolvimento das capacidades militares da Coreia do Norte.
As provocações de Pyongyang vão antes suscitar um reforço da presença e das alianças norte-americanas na região, descreveu.
"As potências regionais empenham-se em eliminar ameaças à segurança nas suas áreas circundantes", descreveu. Mas o desenvolvimento das capacidades de Pyongyang estão a "transformar todo o Nordeste Asiático numa zona de perigo", observou.
"A longo prazo, o aumento das tensões militares no nordeste asiático devido às provocações armadas da Coreia do Norte constituirá um obstáculo à cooperação da China com a comunidade internacional", realçou.
O académico sul-coreano apontou também para o perigo de um "efeito dominó nuclear", à medida que o reforço das capacidades de Pyongyang "dá força" aos defensores da instalação de armamento nuclear na Coreia do Sul e Japão.
"A China pode acabar por se tornar a maior vítima dos desenvolvimentos atuais", apontou.
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