Mandela? "Durante o tempo em que governou não vimos o que vemos agora"
O psicólogo luso-sul-africano António de Gouveia, antigo docente da Universidade Vista, no Soweto, considerou hoje à Lusa que Nelson Mandela representava a promessa da democracia e prosperidade na África do Sul.
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Mundo Nelson Mandela
"Julgo que é uma questão de valores, Nelson Mandela era um homem que acreditava em certos valores e durante o tempo em que governou não vimos o que vemos agora", começou por salientar o psicólogo lusodescendente, em declarações à Lusa.
A África do Sul assinala hoje o 10.º aniversário da morte do líder histórico do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), e primeiro Presidente da democracia pós-'apartheid' sul-africana, que morreu em 05 de dezembro de 2013, em Joanesburgo, com 95 anos.
António de Gouveia lecionou durante 17 anos na Faculdade de Psicologia da Universidade Vista, no Soweto, tendo promovido um encontro entre a antiga Associação de Jovens Empresários e Profissionais Portugueses (AJEPP), que dirigia à época, com o líder histórico sul-africano, logo após a sua libertação da prisão Victor Verster [atual Centro Correcional Drakenstein], no Cabo Ocidental, onde cumpriu os últimos 14 meses da sua luta contra o regime de 'apartheid', até ser libertado em fevereiro de 1990.
"Antes dessa reunião, tentámos encontrar-nos com muitos elementos da comunidade negra para entender as ideias de Mandela, e foi parte desse processo, quando Mandela foi libertado foi a próxima etapa nesse caminho iniciado no fim dos anos 1980", recordou o psicólogo lusodescendente, destacando que um dos projetos foi a criação de um partido político.
Questionado pela Lusa, sublinhou que "em 1994 ninguém sabia o que iria acontecer, houve muita incerteza e os portugueses, na sua maioria, não foram representados nos vários partidos que participaram nas eleições e essa foi a motivação de o LUSAP participar nas eleições".
Todavia, o partido político Luso South African Party (LUSAP), de que Gouveia foi cofundador à época, não conseguiu eleger representatividade no parlamento nacional ou provincial, em Gauteng, onde se situa Joanesburgo, a capital económica do país africano.
O psicólogo guarda de Nelson Mandela a imagem de "um homem de princípios, pragmático, mas também com uma visão de uma África do Sul democrática, não racista e não sexista", acrescentando que "infelizmente a liderança do ANC não tinha a mesma ética, a mesma convicção, e tal como [Jacob] Zuma, eram corruptos, e todos os ideais desaparecerem após o falecimento de Mandela porque enquanto estava vivo era uma referência em termos dos valores e ideais do ANC que representava".
Nesse sentido, sublinhou que Nelson Mandela representa os ideais e os valores "genuínos" do ANC à época, destacando também o papel de Oliver Tambo, e outros, que juntamente com Mandela tentaram "alinhar" o país para um "futuro democrático".
"Infelizmente, a promessa da democracia após o falecimento de Nelson Mandela deu lugar à época de Zuma que, em minha opinião, minou todos os ideais do ANC, afastando a África do Sul do caminho de democracia e prosperidade em que se encontrava (...), e agora o país está no caminho totalmente oposto àquele que Mandela queria construir aqui na África do Sul", adiantou.
"Infelizmente a liderança do ANC não era do calibre de Mandela e agora estamos numa situação muito difícil", considerou.
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