O Programa Alimentar Mundial, uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) e a maior organização humanitária do mundo, anunciou que vai cortar o fornecimento de alimentos a zonas controladas por rebeldes Houthi no Iémen, deixando cerca de 3 milhões de pessoas numa posição ainda mais complicada quando tentam sobreviver à longa guerra civil.
As razões que motivaram o corte no fornecimento são semelhantes às que foram apresentadas para uma decisão semelhante sobre a Síria, outro país em enormes dificuldades humanitárias, socioeconómicas e alimentares devido a uma guerra civil provocada por uma revolução.
O Programa disse que a "pausa" no Iémen deve-se à redução do orçamento da organização, além da falta de um acordo com os rebeldes Houthi para reduzir a dimensão da operação na região e continuar a apoiar os civis. "Esta decisão difícil, em consulta com os doadores, surge depois e um ano de negociações, durante o qual não foi possível chegar a um acordo para reduzir o número de pessoas abrangidas de 9,5 milhões para 6,5 milhões", disse a organização.
Citada pela Associated Press, a porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, acrescentou que a organização tentou "estabelecer um sistema seguro e responsável pela ajuda que chega" a zonas rebeldes, mas sem sucesso.
Agora, o Programa Alimentar Mundial adverte que as reservas de comida nas regiões Houthi estão "quase completamente esgotadas e retomar a assistência alimentar, mesmo com um acordo imediato, pode levar quatro meses devido à disrupção na cadeia de fornecimento".
A notícia foi anunciada na mesma semana em que os Houthis intensificaram os seus ataques marítimos no Mar Vermelho, uma das vias marítimas mais importantes do mercado global, atacando navios israelitas como resposta aos bombardeamentos na Faixa de Gaza e à guerra contra o Hamas, que os Houthis apoiam.
A guerra civil no Iémen é um dos conflitos armados mais complexos e prolongados do mundo, durando há oito anos, entre os rebeldes Houthi (apoiados pelo Irão) e as forças do governo (apoiados por uma coligação de estados do Golfo, liderada pela Arábia Saudita), com vários grupos terroristas à mistura como a al-Qaeda e o Estado Islâmico.
O conflito começou em 2014, após uma crise política com origem na Primavera Árabe, quando os rebeldes invadiram e capturaram a capital, e uma grande parte do norte e oeste do país, exigindo um novo governo.
Desde então, morreram mais de 150 mil pessoas na guerra, a maioria por fome e insuficiência alimentar. A guerra no Iémen provocou uma das piores crises humanitárias do mundo, com mais de 23 milhões de pessoas (três quartos da população) em risco de pobreza extrema e a precisarem de ajuda externa.
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