"O que existe por parte de alguns governos europeus é que eles querem que sejamos submissos a tudo para sufocar a possibilidade de se chegar a um acordo", disse o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), João Martins, em conferência de imprensa, citado pela agência espanhola Efe.
O responsável frisou que o atraso na assinatura do acordo, que estava previsto para esta semana, "é um problema europeu, não brasileiro" e acrescentou que o Governo liderado por Lula da Silva "não criou nenhum problema" para a conclusão das negociações.
A CNA argumentou que o anexo apresentado este ano pela UE, que levanta a possibilidade de sancionar as importações provenientes de áreas desmatadas, entra em conflito com o código florestal brasileiro, que permite um certo grau de desflorestação em terras privadas.
A associação, que disse apoiar o acordo comercial na sua primeira versão assinada em 2019, argumentou que o anexo poderia afetar o acesso real ao mercado europeu para produtos do Mercosul (formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
O Presidente brasileiro, Lula da Silva, que é o líder em exercício do Mercosul até esta semana, rejeitou desde o início a possibilidade de sanções ambientais, apelidando-as como um sinal de colonialismo e falta de confiança por parte dos europeus.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Mercosul reuniram-se hoje no Rio de Janeiro num encontro que inicialmente se admitiu que serviria para finalizar o acordo comercial com a União Europeia, uma ambição agora travada devido ao ceticismo demonstrado por alguns líderes políticos.
O ceticismo esteve patente durante a semana passada, nas declarações, tanto do Presidente francês, Emmanuel Macron, como do chefe de Estado brasileiro.
A acrescentar, o comissário do comércio da União Europeia, Valdis Dombrovskis, cancelou a viagem que faria ao Brasil nesta semana para finalizar o acordo comercial.
O Presidente brasileiro, Lula da Silva, que marcará presença na quinta-feira, na 63.ª Cimeira de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, admitiu, na semana passada, que UE e Mercosul podem acabar sem consenso, depois de ter afirmado ao longo do ano que ambicionava a assinatura do acordo ainda este ano.
A viagem da UE à região serviria para finalizar o acordo comercial do bloco comunitário com o Mercosul, mas face ao ceticismo de países como a Argentina e às críticas recentes de França as perspetivas de concluir o acordo neste ano diminuíram.
A UE e Mercosul têm mantido um contacto regular no sentido de conseguirem concluir as negociações nomeadamente em questões como os compromissos ambientais, após um primeiro aval em 2019, que não teve seguimento.
As discussões evoluíram nos últimos dois meses levando à expectativa de acordo na cimeira do Mercosul, no Rio de Janeiro, mas recentes acontecimentos políticos baixaram as ambições.
Javier Milei, candidato ultraliberal que venceu as eleições presidenciais da Argentina, tem vindo a defender posições polémicas como a retirada da Argentina do Mercosul, que classificou como uma "união aduaneira de má qualidade, que cria distorções comerciais e prejudica os membros", criticando ainda o acordo comercial deste bloco com a UE, que vê como desfavorável.
Além das críticas da Argentina, também o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse no domingo estar "contra" o acordo por não estarem a ser tidas em conta questões de biodiversidade e clima.
O acordo UE-Mercosul abrange os 27 Estados-membros da UE mais Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o equivalente a 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.
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