No momento em que a associação está a lançar uma nova campanha de angariação de padrinhos à distância, realizada com o apoio de algumas marcas do mercado português, e tem disponíveis os presentes solidários de Natal, Margarida Assunção, da Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) Helpo, salientou o esforço que tem sido feito para evitar o abandono escolar e alargar o número de ciclos e de escolas para acolher as milhares de crianças envolvidas.
Com cerca de 4.000 padrinhos, no âmbito de um programa iniciado em 2007, a Helpo tem procurado que o percurso escolar das crianças apoiadas se inicie o mais cedo possível e se prolongue até à conclusão do ensino secundário.
"Este alargar dos ciclos é algo que temos feito já em várias comunidades e que vamos conseguindo, seja pela pressão, pelo aumento dos próprios alunos, como também com a construção de escolas", disse Margarida Assunção à Lusa.
A escolinha em Moçambique (equivalente ao pré-escolar em Portugal) está acessível a apenas 4% da população, salientou a responsável pelo programa de apadrinhamento da Helpo.
Com esta fraca adesão ao ensino pré-escolar, é frequente "as crianças entrarem na primeira classe e ainda não terem as dinâmicas de saber estar sentado numa sala de aula, de saber estar em silêncio, saber ouvir, saber pegar numa caneta, escrever num papel", salientou.
A Helpo ajuda as crianças das comunidades a terem acesso a material escolar, fardas da escola - que no ensino secundário são obrigatórias -, refeições escolares, construção de equipamentos como bibliotecas, salas de aula, latrinas e pontos de recolha e distribuição de água, explicou.
Existem várias modalidades dos programas, mas os mais comuns custam entre 15 a 23 euros por mês aos padrinhos.??????
Em troca, os padrinhos recebem notícias, duas vezes por ano, dos seus afilhados, nomeadamente fotografias e o boletim de notas.
Quando uma criança é apadrinhada são enviadas todas as informações sobre si, desde como é constituída a sua família, as condições em que vive e a sua comunidade.
Também já aconteceu adultos, com 40 ou 50 anos, serem apadrinhados para voltarem a estudar quando, na comunidade em que vivem, passam a ter acesso a uma escola. Por isso, "não há uma idade mínima, nem máxima, para o programa", frisou.
Para uma criança permanecer no programa tem de frequentar a escola e não a pode abandonar.
Graças aos donativos, a Helpo tem conseguido facilitar a vida de algumas crianças, nomeadamente através da doação de bicicletas, "dadas segundo algum critério, como por exemplo o de ter sido o melhor aluno, ou porque vive mais longe", de forma a garantir que, apesar das distâncias e dificuldades, os alunos se mantêm empenhados em estudar. Se a distância, mesmo assim, for demasiado longa também há a possibilidade de a Helpo pagar o alojamento a alunos.
Este ano, para conseguirem angariar mais padrinhos, foi lançada a campanha "Inspirámo-nos em grandes marcas para deixar a nossa", na qual Galp, IKEA, Super Bock e NOS cederam direitos de imagens.
"A ideia foi aproveitar a notoriedade destas grandes marcas para levar a mensagem da Helpo, especificamente o programa de apadrinhamento, a mais pessoas, pegando em anúncios muito icónicos", explicou.
As comunidades onde a organização atua são identificadas pelas autoridades locais, pelos parceiros locais ou pelos próprios membros da Helpo no terreno, que as sinalizam.
Posteriormente, a Helpo avalia-as e dá-se a conhecer.
"A própria comunidade tem de autorizar a presença da organização no terreno, porque a nossa presença vai envolver também o compromisso dos professores, dos diretores da escola, dos próprios pais em algumas atividades", referiu.
Além do programa de apadrinhamento, outras fontes possíveis de financiamento para a Helpo são a "consignação de 0,5% de IRS dos portugueses" e os presentes solidários de Natal, que já estão disponíveis.
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