"Em termos de filantropia, ainda há muito pouco a ir para as alterações climáticas, mas uma coisa que me preocupa é que não pode ser feita à custa do financiamento dos mais pobres", disse Paul Dhalla.
O responsável falava numa sessão sobre o papel de fundações portuguesas na posição da transição climática, que decorreu hoje no Pavilhão de Portugal na 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), a decorrer no Dubai.
Questionado sobre o papel da filantropia, Paul Dhalla sublinhou que é urgente o financiamento da ação climática, mas lembrou que são as populações mais pobres quem mais sofre as consequências das alterações climáticas.
"Não gostava de ver o financiamento climático a desviar fundos dos mais pobres. Têm de ser recursos adicionais", acrescentou.
Sobre o mesmo tema, a diretora do programa de sustentabilidade da Fundação Calouste Gulbenkian, Louisa Hooper, sublinhou também a necessidade de mais financiamento privado e alertou para a urgência do combate às alterações climáticas, afirmando que "sem um planeta funcional, tudo o resto não vai funcionar".
Num debate dedicado ao papel das fundações, em que a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação de Serralves apresentaram o seu trabalho, um dos principais consensos foi sobre a importância do conhecimento, mas também do envolvimento das pessoas.
"É crítico que toda a gente esteja envolvida na jornada da ação climática e da proteção da natureza", defendeu Louisa Hooper, que entende que muito conhecimento ou sensibilização não se traduzem necessariamente em ação.
Por isso, acrescentou, a fundação procura projetos que "levem as pessoas a agir", dando muita relevância às ciências sociais, de forma a perceber como é que os indivíduos se comportam e o que os leva a agir.
"O que nós fazemos todos os dias é sensibilizar para a educação com diferentes políticas", afirmou, por sua vez, Rui Costa, diretor de Recursos e Projetos Especiais na Fundação de Serralves, que sublinhou o potencial da arte, da música e do contacto da natureza como pontes para a ação climática.
Por outro lado, Paul Dhalla alertou que não se deve colocar demasiada pressão na ação individual e sublinhou o perigo da "ansiedade climática".
"Obviamente, temos de nos preocupar com a crise, mas o perigo de falar da crise sem soluções é que criamos ansiedade climática e isso pode levar à apatia e à inação", explicou, acrescentando que "há soluções para tudo aquilo de que [se fala]" e que "as questões políticas vão muito além da capacidade do indivíduo".
*** A Lusa viajou para a COP28 a convite da Fundação Oceano Azul ***
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