"Em todas as oportunidades, salientámos as consequências de uma saída caótica do carvão, do petróleo e do gás sem o apoio da ciência", afirmou o chefe da delegação russa presente na Cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas (COP28), Ruslan Edelgueriev, citado pela agência noticiosa estatal TASS.
"O documento final apela a uma contribuição para os esforços globais de abandono dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, mas sobretudo através de uma transição justa e ordenada, tendo em conta as diferentes circunstâncias nacionais", acrescentou.
Edelgueriev, representante especial do Presidente russo Vladimir Putin para as questões climáticas, admitiu que as formulações finais "provavelmente não satisfazem toda a gente", o que "só confirma a natureza de compromisso do acordo".
Segundo muitos cientistas, a Sibéria e o Ártico russos são das regiões mais expostas às alterações climáticas, pois, nos últimos anos, têm registado regularmente ondas de calor e incêndios de grandes proporções.
Mas a questão climática está praticamente ausente do debate público russo, sobretudo desde a ofensiva militar na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
Desde o início do conflito, Moscovo também reprimiu as organizações não-governamentais (ONG) ambientais e flexibilizou as normas antipoluição para apoiar a economia sob sanções e a rede militar e industrial a funcionar em pleno.
O acordo alcançado hoje na COP28, que pela primeira vez apelou ao abandono gradual dos combustíveis fósseis, foi celebrado pela maioria dos países e organizações, noticiou a imprensa internacional.
O acordo foi bem recebido pela presidência da COP28 - assumida pelos Emirados Árabes Unidos (EAU) -, Estados Unidos, União Europeia (UE), França, Espanha, Países Baixos, Estados árabes, mas foi menos comemorado pela Austrália.
As Nações Unidas e Samoa, que falaram em nome das pequenas ilhas, foram mais comedidos na celebração do pacto e a China apelou aos países desenvolvidos que assumam a liderança na transição energética global.
O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, afirmou que o pacto é histórico para o combate das alterações climáticas e o vice-ministro do Ambiente chinês, Zhao Yingmin, declarou que os países desenvolvidos "têm uma responsabilidade histórica e indiscutível nas alterações climáticas".
"Devem assumir a liderança no compromisso com o caminho até aos 1,5 graus" e em "alcançar a neutralidade carbónica o mais rápido possível", sublinhou.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, saudou "este passo importante" que "envolve o mundo numa transição sem combustíveis fósseis", ao mesmo tempo que apelou à "aceleração" da luta contra o aquecimento global.
"O grupo árabe expressa a sua gratidão aos grandes esforços da presidência dos EAU e da sua equipa", disse a representante da delegação saudita na COP28, Albara Tawfiq, que preside o grupo árabe na ONU Clima, saudando "o grande sucesso" da conferência.
Tawfiq citou as conquistas obtidas no texto final, como as tecnologias de retenção e armazenamento de carbono, promovidas pelos países produtores de petróleo para poderem continuar a produzir combustíveis fósseis.
"O resultado não vai tão longe como muitos de nós pedíamos, começando pelos países mais vulneráveis. Mas a mensagem enviada é clara: todas as nações do mundo reconhecem que o nosso futuro reside na energia limpa e que a era dos combustíveis fósseis vai terminar", disse o ministro do Clima australiano, Chris Bowen.
A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS, na sigla em inglês), particularmente ameaçada pelas alterações climáticas, manifestou reservas e preocupações após a adoção do texto, que considera insuficiente.
"Demos um passo em frente relativamente ao 'status quo', mas é de uma mudança exponencial que verdadeiramente precisávamos", declarou Anne Rasmussen, representante das Ilhas Samoa, que preside à AOSIS.
Após o anúncio do acordo, o Brasil instou os países desenvolvidos a liderar a transição energética e fornecer "os meios necessários" às nações em desenvolvimento.
"É fundamental que os países desenvolvidos assumam a liderança na transição para o fim dos combustíveis fósseis", afirmou a ministra do Ambiente brasileira, Marina Silva, apelando também a que sejam "assegurados os meios necessários aos países em desenvolvimento".
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