"Fizemos muito pela guerra na Ucrânia, mas hesitámos muito", criticou Borrell, durante a sua intervenção no Seminário Diplomático, que decorre hoje e quinta-feira na Fundação Oriente, em Lisboa.
"Se não tivéssemos vacilado tanto, talvez a guerra tivesse seguido outro curso", afirmou, sublinhando que "é preciso ser mais rápido na ajuda".
De acordo com o representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, todas as decisões de envio de sistemas de armamento foram antecedidas por semanas de conversações e dúvidas que apenas resultaram numa demora em transferir o apoio militar pedido por Kyiv.
Embora tenha reconhecido ser difícil "pôr 27 Estados em acordo numa situação tão tremenda como uma guerra na sua fronteira", Josep Borrell sublinhou que "a Europa não pode fraquejar no seu apoio à Ucrânia".
"Se a Rússia conseguir o seu objetivo, a Europa estará em perigo", alertou, acrescentando que "o apoio dado até agora não é suficiente".
"Gostava que houvesse uma perspetiva de paz, mas francamente não a vejo. As perspetivas concentram-se mais numa disputa militar do que na procura de uma solução de paz", disse.
O Presidente russo, Vladimir "Putin, não tem nenhuma intenção de acabar esta guerra enquanto não conseguir os seus objetivos, isso ficou demonstrado nos ataques da semana passada".
A Rússia lançou cerca de 300 mísseis e 200 'drones' (aeronaves sem tripulação) contra a Ucrânia desde 29 de dezembro, tendo Putin garantido que vai intensificar os seus ataques contra alvos militares na Ucrânia.
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, pediu na terça-feira aos parceiros internacionais que acelerem a entrega de ajuda militar, sobretudo de sistemas de defesa aérea, na sequência da multiplicação dos ataques russos.
Inicialmente, lembrou o representante da UE, a resposta dos 27 Estados-membros à guerra na Ucrânia foi facilmente consensual.
"Em poucos dias, tivemos uma resposta unânime para mobilizar recursos financeiros e, pela primeira vez, enviar ajuda militar a um país em guerra", referiu.
Nos últimos tempos, essa unanimidade não é tão sólida e, "quanto mais durar a guerra, mais difícil será continuar" a haver união.
Questionado, durante o seminário, pela embaixadora portuguesa em Moscovo, Mariana Fisher, sobre a relação que se pode esperar entre a Europa e a Rússia quando a guerra terminar, o chefe da diplomacia europeia admitiu que "tudo depende de como [o conflito] acabe".
"É muito difícil imaginar como nos vamos relacionar com a Rússia", reconheceu, referindo que não pode haver uma "permanente instabilidade na fronteira leste da Europa".
Josep Borrell participou hoje, como convidado especial, no primeiro dia do Seminário Diplomático, encontro anual promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros com os diplomatas portugueses para debater as prioridades da política externa.
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