Bielorrússia envia crianças deportadas para treino com militares
As autoridades bielorrussas enviaram um grupo de crianças provenientes dos territórios na Ucrânia ocupada pela Rússia para treino com os militares e simulação de evacuação em caso de incêndio, informou hoje a televisão estatal de Minsk.
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Mundo Ucrânia
A Ucrânia e a oposição bielorrussa alegam que a Bielorrússia, aliada do Kremlin, está envolvida na transferência ilegal de crianças ucranianas, apontando uma campanha para doutriná-las num ideário pró-Moscovo.
A notícia de hoje refere 35 crianças de Antratsyt, cidade ocupada pela Rússia na província de Lugansk, leste da Ucrânia, que as autoridades bielorrussas disseram ter sido enviadas para Mogilev, no leste do país.
O canal televisivo estatal Belarus1 disse que as crianças estão alojadas num sanatório e são cuidadas por funcionários do Ministério de Situações de Emergência.
Os militares estão "a ensinar as crianças a agir em situações extremas", disse a estação de televisão.
Mais de 2.400 crianças ucranianas com idades entre os 06 e os 17 anos foram levadas para a Bielorrússia provenientes de quatro regiões ucranianas parcialmente ocupadas por tropas russas, segundo um estudo recente da Universidade norte-americana de Yale.
A oposição bielorrussa apelou ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para levar à justiça o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, e elementos do seu Governo pelo envolvimento na transferência ilegal de crianças ucranianas.
Imagens da televisão estatal divulgadas hoje mostraram as crianças ucranianas usando a bandeira russa costurada nas mangas.
A estação televisiva disse que os militares bielorrussos estão a realizar "um treino de sobrevivência de emergência" para as crianças.
Durante a reportagem, gritos foram ouvidos numa sala cheia de fumo enquanto as imagens mostravam as crianças apoiadas na parede a aprender a sair durante um incêndio.
"As nossas aulas são ministradas em formato lúdico e voltadas para crianças", explicou Evgeniy Sokolov, inspetor do centro de treino militar de Mogilev do Ministério de Situações de Emergência.
As autoridades de Kyiv afirmaram que estão a investigar a deportação das crianças como um possível genocídio. O procurador-geral da Ucrânia disse que a Bielorrússia também está a ser investigada pela alegada transferência forçada de mais de 19 mil menores dos territórios ucranianos ocupados.
Pavel Latushka, antigo ministro da cultura da Bielorrússia que se tornou ativista da oposição e que apresentou ao TPI provas do alegado envolvimento de Lukashenko na deportação de crianças, destacou que "as autoridades bielorrussas não estão a esconder o facto de as crianças estarem a ser doutrinadas".
As crianças ucranianas estão a ser "submetidas a reeducação e doutrinação" para as tornarem pró-Rússia, disse Latushka à agência Associated Press.
Segundo o ativista, há casos de crianças ucranianas levadas para a Bielorrússia e depois para a Rússia, onde foram entregues para adoção.
Em março de 2023, o TPI emitiu mandados de detenção para o Presidente russo, Vladimir Putin, e para a sua comissária para os Direitos das Crianças, Maria Lvova-Belova, acusando-os de crimes de guerra devido à deportação e transferência ilegal de crianças da Ucrânia para a Rússia, acusações refutadas por Moscovo.
A Bielorrússia tem sido o aliado mais próximo do Kremlin desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, quando Lukashenko permitiu que Moscovo usasse o seu país para lançar tropas no norte do território ucraniano.
A Rússia também estacionou algumas das suas armas nucleares táticas na Bielorrússia como forma de tentativa de intimidação dos países membros da NATO na região.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 após a desagregação da antiga União Soviética e que tem vindo desde então a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
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