Exército acusado de atropelar corpo e disparar sem causa na Cisjordânia

O Exército israelita admitiu hoje que um dos seus veículos passou involuntariamente por cima do "corpo de um terrorista" na Cisjordânia ocupada, enquanto palestinianos acusaram os militares de dispararem sem provocação, causando um morto.

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© Nedal Eshtayah/Anadolu via Getty Images

Lusa
10/01/2024 23:41 ‧ 10/01/2024 por Lusa

Mundo

Israel

Um vídeo do incidente do atropelamento, que ocorreu na madrugada de terça-feira e foi amplamente partilhado nas redes sociais, suscitou forte condenação por parte da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), que denunciou um "crime brutal".

As Brigadas Al-Aqsa, o braço militar do partido Fatah do presidente da ANP, Mahmoud Abbas, com sede na Cisjordânia, confirmaram a morte de três dos seus combatentes durante esta operação.

As imagens mostram uma viatura militar em frente a um corpo e esta a arrancar a passar por cima deste.

A viatura, destacada no setor de Tulkarem (norte) "para evacuar as forças que foram apanhadas sob fogo pesado (...) rolou involuntariamente sobre o corpo de um terrorista", segundo um comunicado do Exército israelita enviado à agência France-Presse (AFP).

Os israelitas sublinharam ainda que o vídeo "não mostra o incidente na íntegra".

Outro vídeo de uma câmara de segurança, numa localidade na Cisjordânia, mostra um jovem parado numa praça central, antes de ser subitamente baleado e cair no chão. Duas outras pessoas que o tentaram socorrer, também foram atingidas, incidente que causou a morte a um jovem de 17 anos. Pouco depois do tiroteio, veículos militares israelitas surgem na imagem.

Uma análise da agência Associated Press (AP) ao vídeo e entrevistas com os dois sobreviventes feridos apontou que soldados israelitas abriram fogo contra os três, quando estes não pareciam representar uma ameaça.

Um dos palestinianos feridos foi baleado pela segunda vez, depois de se levantar e tentar fugir.

O tiroteio na aldeia de Beit Rima, que ocorreu na semana passada, é o mais recente de uma série de incidentes em que soldados pareciam disparar sem provocação, uma tendência que os palestinianos dizem ter piorado desde o início da guerra Israel-Hamas em Gaza, há três meses.

Os militares israelitas referiram que as tropas entraram em Beit Rima durante a madrugada de sexta-feira como parte de uma "operação antiterrorista" e acrescentaram que as tropas dispararam contra suspeitos que atiraram explosivos e bombas incendiárias.

A AP sublinhou ainda que as imagens a que teve acesso não mostra ninguém a atirar explosivos.

Depois de analisar as imagens, um porta-voz militar frisou que os soldados relataram que um dos palestinianos -- que surge ajoelhado diante de um objeto fora do enquadramento -- estava a acender um engenho incendiário artesanal ('cocktails molotov') quando foi baleado.

O vídeo, porém, mostra que o primeiro tiro não atingiu o homem ajoelhado, mas sim outro palestiniano, Nader Rimawi.

Nader contou à AP que o objeto era uma pilha de caixas de papelão e pedaços de papel que Osaid Rimawi, de 17 anos, tinha reunido e estava a preparar-se para acender, para os manter aquecidos.

Outros vídeos do tiroteio publicados nas redes sociais e analisados pela AP parecem consistentes com a descrição de Nader do objeto que Osaid estava a preparar-se para acender.

Os palestinianos envolvidos negaram à AP que tenham atirado explosivos e disseram que os tiroteios não foram provocados.

O Exército israelita realiza frequentemente operações na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, em 07 de outubro, que começou após o ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita, pelo menos 334 palestinianos morreram na Cisjordânia, de acordo com dados da ANP.

Leia Também: ONU vai "recolher informações" sobre casos de violência sexual pelo Hamas

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