"Os resultados eram esperados na perspetiva de que Trump ganhou, mas é óbvio que Nikki Haley excedeu as expectativas, pelo menos naquilo que as sondagens previam", explicou à Lusa Daniela Melo, cientista política e professora na Universidade de Boston.
"Não foi uma noite terrível para Nikki Haley, aliás pelo contrário", frisou, sobre o 'caucus' em New Hampshire (nordeste dos EUA), na terça-feira à noite.
Haley mostrou um discurso "muito combativo, mas positivo ao mesmo tempo, com uma mensagem muito positiva para os eleitores, o eleitorado moderado do partido republicano e para os independentes moderados", acrescentou.
É desta coligação que a antiga embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU precisa para ter uma hipótese de desafiar Trump na corrida à nomeação.
Com 72% dos votos contabilizados, Haley garantia 43,6% contra 54,4% de Trump, que venceu as primárias em New Hampshire. Mas esta diferença de 10 a 11 pontos percentuais garante a continuidade do apoio à campanha e, principalmente, do financiamento.
"Nikki Haley vai ficar na corrida porque vê progressos. Sabe que é difícil, poderá ser quase inatingível, mas está disposta a ir à luta", salientou Daniela Melo.
A politóloga destacou alguns pontos essenciais do discurso de derrota de Haley que mostram qual o caminho que a campanha vai seguir em direção às primárias na Carolina do Sul, a 24 de fevereiro, e à "Super Tuesday", a 05 de março.
"Um argumento forte é de que, apesar de Donald Trump ter uma grande base de apoio dentro do partido, isso não é suficiente para ganhar a nível nacional", referiu a analista.
Haley pôs em causa a elegibilidade do ex-Presidente norte-americano, enumerando as várias derrotas do Partido Republicano desde que Trump entrou na Casa Branca.
"Também atacou muito diretamente a acuidade mental dele", continuou Melo. "Foi uma Nikki Haley muito assertiva, muito combativa e com muita vontade de dar luta a Donald Trump", sublinhou. "Pareceu genuína e sincera naquele entusiasmo".
As sondagens para a Carolina do Sul preveem que a candidata volte a perder para Donald Trump, embora estes resultados em New Hampshire e a retirada de Ron DeSantis possam mover as setas nas próximas semanas.
"Se Donald Trump ganhar por 15%, 20%, ou acima disso, ela vai ter poucos argumentos não só com o eleitorado mas também com os doadores, que estão a financiar esta luta", referiu Daniela Melo.
Na visão da analista, uma ascensão de Haley é algo que o Partido Democrata não quer, posição expressa pela própria candidata.
"Será um desafio gigantesco para a campanha de Biden se Trump não for o nomeado. Porque Nikki Haley pode voltar a unir o eleitorado republicano", considerou.
Daniela Melo ressalvou que o caminho "é estreito" e a candidata tem poucas hipóteses, mas é a "última mulher de pé" contra Trump e ainda não pode ser descartada.
"O argumento mais forte que ela fez foi relembrar ao eleitorado que começou como uma de 14 candidatos à liderança do partido, com 2% nas sondagens, e que neste momento é só ela contra Trump", disse.
Sendo a Carolina do Sul um eleitorado mais favorável ao ex-Presidente, as hipóteses de Haley dependerão da capacidade de mobilizar o eleitorado moderado de uma forma histórica.
"Diria, neste momento, que ela tem mais hipóteses de o fazer por ser a única candidata e porque a dinâmica a dois é muito diferente de uma dinâmica a três ou quatro", indicou a professora.
"Tenho que admitir que estou impressionada com Haley", afirmou. "Ela transmite uma energia genuína, que se tem visto também no apoio que vai recebendo", continuou. "Será suficiente? É provável que não. Mas que ela vai dar luta, vai".
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