Atuação de Zelensky nas redes sociais "crucial" na mobilização

Uma investigadora ucraniana defende que a atuação do Presidente da Ucrânia nas redes sociais, que já era prévia à invasão russa de 2022, teve um papel "crucial" na mobilização do povo e na co-criação de narrativas sobre a guerra.

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© Artur Widak/NurPhoto via Getty Images

Lusa
26/01/2024 14:56 ‧ 26/01/2024 por Lusa

Mundo

Ucrânia

"No passado [quando a Península da Crimeia foi ilegalmente anexada por Moscovo], a Ucrânia não teve muito sucesso a usar tecnologias digitais para contra-atacar a propaganda russa. Já em 2022, a forma como Volodymyr Zelensky atuou nas redes sociais e a forma como os ucranianos passaram a tentar contar o seu lado da guerra foi muito importante. A Rússia tem mais recursos [para atuar nos meios digitais], mas o equilíbrio de poderes mudou e a Ucrânia ganhou a sua voz", afirmou à agência Lusa a docente e investigadora da Universidade do Mar do Norte Petro Mohyla, em Mykolaiv (Ucrânia), Alina Mozolevska.

A especialista nas áreas da comunicação política e culturas visuais falava à Lusa à margem do colóquio internacional UNPOP -- Emoções, Narrativas e Identidades na Política, Populismo e Democracia, que começou na terça-feira e termina hoje, em Coimbra.

Para a investigadora, a experiência que Zelensky já tinha nas redes sociais e a forma como depois as usou desde o início da invasão russa em 2022, aliada ao seu passado no setor do entretenimento, foi fundamental para garantir a mobilização da população ucraniana para a guerra.

Político de uma geração mais jovem e mais ligada ao mundo digital, Zelensky já tinha usado de forma intensiva as redes sociais para a campanha para as Presidenciais de 2019, não apostando numa campanha dita convencional, referiu a investigadora.

Após ser eleito, prosseguiu a investigadora, a sua presença nas redes sociais continuou "bastante ativa", e, quando a invasão começou, Zelensky usou essa experiência e presença forte no meio digital "para intensificar" uma ligação emocional com o povo.

"Mostrar a sua presença física no país, diariamente, foi também fundamental para acalmar a população e evitar o pânico e o caos, quando a Rússia propagava a narrativa de que teria fugido", salientou Alina Mozolevska.

A investigadora recorda que, em 2014, quando a Península da Crimeia é ilegalmente anexada pela Rússia, a "voz ucraniana não foi ouvida".

"Mas em 2022, a Ucrânia tornou-se visível. Houve uma resposta rápida e, para isso, foi muito importante o Presidente ucraniano manter-se no país e falar com os cidadãos e com líderes políticos internacionais através das redes sociais", vincou.

Num momento em que a guerra não pode ser entendida apenas como uma batalha física, mas como algo que também ocorre nos meios digitais, não é apenas a comunicação do Presidente e do seu Governo que assume relevância, registando-se também um papel importante de base do próprio povo ucraniano, segundo frisou Alina Mozolevska.

"O ambiente tecnológico em que vivemos cria a possibilidade de transmitir vídeos a partir das frentes de batalha, com os dispositivos móveis a servirem não apenas para informar, mas também para co-criar narrativas e co-participar na guerra. A guerra na Ucrânia é transmitida ao vivo a toda a hora e aquilo que alguns investigadores chamam de 'feed' de guerra é co-criado pelas redes sociais, tanto por aqueles que estão no campo de batalha como por aqueles que estão a muitos quilómetros de lá", notou Alina Mozolevska.

Nesse sentido, a docente universitária destaca também os "milhões de ucranianos que começam a comunicar, a enviar mensagens e fotos de vários locais".

"E isso não é possível de controlar. A comunicação de topo é algo controlado, mas há milhões de pessoas a usar os seus telemóveis para mostrar ao vivo sítios que estão a ser bombardeados, como Odessa ou Kharkiv. Há uma combinação de comunicação estratégica no topo com uma mobilização civil de tentar tornar a Ucrânia visível", concluiu.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Leia Também: Rússia nega abertura para negociar adesão de Kyiv à NATO

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