"Ontem [terça-feira], reuni-me com os doadores para ouvir as suas preocupações e delinear as medidas que estamos a tomar para as resolver. Sublinhei a importância de manter o trabalho vital da UNRWA para satisfazer as necessidades urgentes dos civis em Gaza e para garantir a continuidade dos seus serviços aos refugiados palestinianos na Cisjordânia ocupada, na Jordânia, no Líbano e na Síria", afirmou.
"A UNRWA é a espinha dorsal de toda a resposta humanitária em Gaza", sublinhou ainda Guterres na primeira sessão do ano do Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano.
A mensagem de Guterres surge na sequência de um encontro que manteve na terça-feira com importantes doadores da agência - incluindo os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Japão -, que anunciaram a suspensão da sua ajuda à UNRWA após Israel ter acusado 12 dos seus funcionários de envolvimento no ataque de 7 de outubro efetuado pela ala militar do movimento islamita palestiniano Hamas.
Num comunicado divulgado no domingo, o gabinete de Guterres especificava que, das 12 pessoas implicadas nas acusações, nove foram imediatamente identificadas e demitidas pelo comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini; uma foi confirmada como morta e a identidade das outras duas estava em processo de esclarecimento.
Contudo, documentos israelitas compartilhados com autoridades dos Estados Unidos e obtidos pela agência Associated Press (AP) indicavam que dois desses 12 funcionários estavam mortos.
Uma investigação do Gabinete de Serviços de Supervisão Interna da ONU foi imediatamente ativada.
A embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que Washington não descarta retomar o financiamento, mas que são necessárias "mudanças fundamentais" no funcionamento da agência.
Na sessão de hoje, Guterres admitiu ter ficado "horrorizado" com o caso, mas sublinhou que as Nações Unidas agiram imediatamente na sequência das "acusações muito graves" contra funcionários da UNRWA.
"Apelo a todos os Estados-membros para que garantam a continuidade do trabalho da UNRWA para salvar vidas", exortou.
Reiterando que o sistema humanitário em Gaza está em colapso, o secretário-geral da ONU assumiu estar "extremamente preocupado com as condições desumanas" enfrentadas pelos 2,2 milhões de habitantes de Gaza, enquanto lutam para sobreviver sem acesso a bens básicos.
"Todos em Gaza passam fome, enquanto meio milhão enfrenta níveis catastróficos de insegurança alimentar. Apelo a um acesso humanitário rápido, seguro, sem entraves, alargado e sustentado em toda Gaza", reforçou.
O ex-primeiro-ministro português frisou ainda que um acesso humanitário desimpedido é particularmente crucial no norte do enclave, onde a maioria das missões da ONU foi barrada por Israel, no meio de insegurança e combates contínuos.
A guerra entre Israel e o Hamas eclodiu em 7 de outubro, na sequência de um ataque do grupo islamita que matou 1.200 pessoas em território israelita e fez pelo menos 240 reféns.
Desde então, mais de 26.750 palestinianos foram mortos só em Gaza - mais de dois terços deles mulheres e crianças.
De acordo com os números divulgados hoje por Guterres, mais de 70% das infraestruturas civis - incluindo casas, hospitais, escolas, instalações de água e saneamento em Gaza - foram destruídas ou gravemente danificadas.
Leia Também: Gaza. Guterres reúne-se com doadores para garantir continuidade da UNRWA