O memorando preparado em 31 de janeiro pelo Grupo de Saúde da Etiópia baseia-se numa avaliação de dois distritos perto da fronteira com a Eritreia por agências das Nações Unidas e organizações não-governamentais.
O ministro da informação da Eritreia, Yemane Gebremeskel, negou as alegações e disse hoje à agência de notícias Associated Press (AP) que os relatos de roubo de gado e raptos são falsos.
Num dos incidentes, em 22 de janeiro, oito pastores foram raptados com os seus burros e camelos. Noutro, em 06 de dezembro, seis pessoas foram raptadas juntamente com 56 animais. Num terceiro, em 05 de dezembro, soldados eritreus roubaram 100 animais.
O documento refere que várias partes dos dois distritos fronteiriços estão "totalmente ocupadas ou patrulhadas" pelos militares da Eritreia, o que significa que as pessoas deslocadas pelo conflito que afligiu Tigray durante dois anos não podem regressar às suas casas e cultivar as suas terras. Em muitas áreas, o exército federal da Etiópia não está presente e não está a proteger as pessoas, afirma-se no documento.
No memorando refere-se também pelo menos 50 mortes por fome nos subdistritos de Shimblina e Ademeyti, afetados pela seca e de difícil acesso para as organizações de ajuda humanitária.
A Eritreia foi um aliado fundamental do Governo da Etiópia durante o conflito civil contra a Frente de Libertação do Povo de Tigray, ou TPLF, o antigo partido no poder em Tigray. As suas tropas são acusadas de violações dos direitos humanos, incluindo massacres de civis e escravatura sexual.
O acordo de paz que pôs fim à guerra em novembro de 2022 previa a retirada das tropas estrangeiras de Tigray. A Eritreia não foi signatária. Ainda ocupa várias áreas ao longo da fronteira com a Etiópia, uma das fronteiras mais disputadas do mundo.
No aniversário do cessar-fogo, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, apelou à retirada das tropas da Eritreia.
Embora o cessar-fogo tenha acabado com os combates, a sua implementação tem sido lenta. Houve poucos progressos na Justiça transicional para crimes de guerra, enquanto um programa de desarmamento para centenas de milhares de ex-rebeldes ainda não foi iniciado.
Na quarta-feira, a TPLF apelou à comunidade internacional para que apoiasse a implementação do acordo. O Governo federal respondeu na quinta-feira dizendo que tinham sido prometidos fundos para cumprir os seus compromissos.
Desde que a guerra de Tigray terminou, a violência tomou conta do estado vizinho de Amhara, onde o Governo está a lutar contra um exército que lutou ao seu lado contra a TPLF.
Na quinta-feira, o parlamento federal da Etiópia votou a favor da prorrogação do estado de emergência introduzido em agosto para acabar com a agitação.
Pelo menos 600.000 pessoas foram mortas durante a guerra em Tigray, que eclodiu em 04 de novembro de 2020, de acordo com o mediador da União Africana, o antigo Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo.
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