Paquistão. Nawaz Sharif 'espreita' regresso nas eleições parlamentares

O Paquistão realiza quinta-feira eleições parlamentares que poderão confirmar o regresso ao poder do antigo primeiro-ministro Nawaz Sharif e o afastamento do seu arquirrival Imran Khan, num contexto de polarização política e ressurgimento do radicalismo islâmico.

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Lusa
06/02/2024 08:18 ‧ 06/02/2024 por Lusa

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Paquistão

Segundo os dados da comissão eleitoral local, 127 milhões de eleitores estão inscritos para poderem escolher entre os 44 partidos políticos que vão competir pelos 266 lugares na Assembleia Nacional, ou câmara baixa do parlamento, com mais de 70 lugares reservados para mulheres e minorias.

Após as eleições, o novo parlamento escolherá o próximo primeiro-ministro e, se nenhum deles obtiver uma maioria absoluta, a força política com a maior percentagem de lugares na Assembleia poderá formar um governo de coligação.

Muitos especialistas concordam que, no atual panorama político do Paquistão, parece haver apenas um candidato de topo para a chefia do governo, Nawaz Sharif, três vezes antigo primeiro-ministro que regressou ao país e foi absolvido das condenações do passado.

Sharif regressou em outubro passado, após quatro anos de exílio autoimposto em Londres, para evitar cumprir penas de prisão. Poucas semanas após o seu regresso, as sentenças e condenações foram anuladas.

O seu arquirrival, o antigo primeiro-ministro Imran Khan, uma estrela do críquete que se tornou político islamita e que foi deposto em abril de 2022, está atrás das grades e proibido de concorrer às eleições.

E embora Khan tenha um número significativo de seguidores, é a intensidade da sua queda e a facilidade do regresso de Sharif que levaram muitos a acreditar que o resultado já está decidido.

O Paquistão, com armas nucleares, é o quinto país mais populoso do mundo e um aliado ocidental imprevisível. Faz fronteira com o Afeganistão, a China, a Índia e o Irão -- uma região repleta de fronteiras hostis e relações tensas.

Para a comunidade internacional, um governo paquistanês forte e estável significa uma maior probabilidade de conter qualquer agitação, enfrentar os desafios económicos e travar a migração ilegal.

E embora tudo possa acontecer no dia das eleições, tanto a Liga Muçulmana Paquistanesa, de Sharif, como o Pakistan Tehreek-e-Insaf, de Khan, têm levado a cabo campanhas sem brilho nas últimas semanas, algo que, segundo analistas, só contribui para a apatia geral dos eleitores.

Tal pode voltar a assombrar o próximo governo do Paquistão e preparar o terreno para uma fuga de cérebros ainda mais intensa e para mais problemas políticos, bem como para protestos violentos. E isso só beneficiaria os militantes islâmicos.

A detenção de Khan, em maio de 2023, desencadeou uma onda de destruição a uma escala nunca vista desde o assassínio, em 2007, da antiga primeira-ministra Benazir Bhutto.

Os apoiantes de Khan culparam os militares pela morte e começaram a destruir edifícios e propriedades militares, numa forte mensagem de desafio num país onde o exército exerce uma enorme influência.

As autoridades responderam com detenções em massa, uma repressão do partido de Khan e a introdução de julgamentos militares para civis. A repressão parece ter quebrado parte desse espírito, embora um recente comício pré-eleitoral na cidade de Karachi, no sul do país, onde a polícia foi forçada a dispersar os apoiantes de Khan com gás lacrimogéneo, tenha mostrado que alguns estavam prontos a lutar por ele.

Ayesha Siddiqa, académica e analista de assuntos militares, alerta para a possibilidade de mais instabilidade à medida que o sentimento 'anti-establishment' cresce. "As pessoas estão zangadas. A aversão ao exército aumentou tremendamente, e isso é mais visível".

Atualmente, a situação inverteu-se. Khan está na prisão, enquanto o regresso de Sharif e a absolvição que se lhe seguiu - agravados por uma campanha eleitoral que só lançou a 15 de janeiro -- posicionam-no como o candidato do sistema de segurança.

No Paquistão, a intimidação dos eleitores e outras formas de fraude eleitoral foram comuns no passado. Farzana Shaikh, membro associado do grupo de reflexão Chatham House, com sede em Londres, diz que muita coisa parece "demasiado familiar" nestas eleições.

"Nada é chocante para aqueles que seguiram a política paquistanesa", disse. Embora haja uma forte sensação de 'déjà vu', Shaikh não se lembra de tanta divisão no período que antecedeu uma eleição.

"O clima político é o mais polarizado que já vimos na história do Paquistão", disse Shaikh, sublinhando as "formas sistemáticas e cruéis" com que o sistema judicial e o sistema de segurança atuaram contra Khan e o seu partido.

Os candidatos do partido de Khan foram forçados a concorrer como independentes, depois de o Supremo Tribunal e a Comissão Eleitoral terem dito que não podiam usar o símbolo do partido - um taco de críquete nos boletins de voto - para ajudar os eleitores analfabetos a encontrá-los nos boletins.

A derrota de Khan e a ressurreição de Sharif deram a impressão de um resultado pré determinado e "pode ser demasiado tarde para mudar a perceção", insistiu Shaikh.

A analista política Samina Yasmeen, da Universidade da Austrália Ocidental, prevê repercussões negativas para a economia, já de si conturbada, se os eleitores saírem com a ideia de que a votação foi injusta -- "não vão confiar no governo".

Os clérigos e os grupos militantes há muito que querem impor a sua interpretação da lei islâmica, ou Shariah, na vida quotidiana do Paquistão, alegando que os costumes ocidentais e a democracia não funcionam.

Com o aumento das divisões políticas, a perda de confiança no governo e no sistema, o Islão radical pode beneficiar num país com um historial de militância, lembrou Yasmeen.

"O Paquistão precisa de um governo que recupere a confiança da população, crie emprego e preste serviços básicos. As pessoas precisam dessa sensação de segurança. Sem isso, estamos numa ladeira escorregadia", acrescentou.

Leia Também: Dez polícias mortos em ataque numa esquadra no Paquistão

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