"Na nossa opinião, um prolongado período de incerteza pode ter efeitos em cascata no fluxo de investimentos no país e, nesse sentido, na atividade económica, que antevemos que cresça cerca de 8% ao ano entre 2024 e 2026", escreve a agência de 'rating'.
Num comentário enviado aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, a S&P diz que "apesar de não antever um cenário em que o atual Presidente se agarre ao poder indefinidamente, estes desenvolvimentos vão provavelmente erodir a confiança na robustez institucional do Senegal e prejudicar a sua reputação de uma das mais estáveis democracias em África, com um longo historial de transferências pacíficas de poder".
O adiamento das eleições previstas para este mês "abre uma incerteza política, que pode levar à fuga de capitais e da confiança dos investidores", salientam ainda os analistas da S&P, que atribui ao Senegal um rating de B+ com uma perspetiva de evolução estável.
Na segunda-feira, o parlamento senegalês aprovou uma lei que adia as eleições presidenciais de 25 de fevereiro para 15 de dezembro e prorroga por um ano o mandato do Presidente cessante, Macky Sall.
As reações por parte da comunidade internacional surgiram de imediato, com a grande maioria das instituições regionais e países a defenderem a rápida marcação de eleições.
Hoje, os Estados Unidos afirmaram que o adiamento das eleições presidenciais senegalesas para 15 de dezembro "não pode ser considerado legítimo" e exortaram o Governo do Senegal "a organizar as eleições presidenciais em conformidade com a Constituição e leis eleitorais".
"Os Estados Unidos estão profundamente preocupados com as medidas tomadas para adiar as eleições presidenciais senegalesas de 25 de fevereiro, uma medida que vai contra a forte tradição democrática do país", declarou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, citado num comunicado de imprensa divulgado ao final da noite de terça-feira em Washington.
O Departamento de Estado apelou igualmente ao "imediato restabelecimento total do acesso à Internet e ao completo respeito pelas liberdades de reunião pacífica e de expressão, incluindo as dos membros da comunicação social".
Ainda segundo o mesmo comunicado, os Estados Unidos manifestam-se "comprometidos com todas as partes e com os parceiros regionais nos próximos dias".
A posição norte-americana contrasta com a declaração lacónica da diplomacia francesa, antiga colónia e com presença incomparavelmente maior em toda a região, que até agora apenas manifestou os votos de que as eleições sejam "realizadas o mais rapidamente possível".
No mesmo sentido, também a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) se inibiu de condenar o adiamento das eleições no Senegal, não indo além de manifestar "a sua preocupação com as circunstâncias que levaram" às mesmas e apenas pedindo às "autoridades competentes que acelerem os diferentes processos para estabelecer uma nova data" para as eleições segundo dois comunicados, um divulgado no último domingo e outro na terça-feira.
A União Europeia acompanhou a posição assumida pela CEDEAO, apelando à realização de "eleições transparentes, inclusivas e credíveis, o mais rapidamente possível e com respeito pelo Estado de direito, a fim de preservar a longa tradição de estabilidade e democracia no Senegal", de acordo com um comunicado divulgado no mesmo dia.
O acesso à Internet de dados móveis foi restabelecido esta manhã na capital senegalesa, Dacar, depois de uma suspensão de dois dias decretada pelas autoridades, no contexto da crise. O ministério senegalês das Telecomunicações justificou a medida com a difusão nas redes sociais de "mensagens odiosas e subversivas (...) num contexto de ameaça à ordem pública".
O adiamento das eleições até 15 de dezembro e o prolongamento do mandato de Sall por mais um ano -- proposta de lei apresentada pelo PDS e apoida pela BBY - foram aprovados esta segunda-feira pela Assembleia Nacional senegalesa, pela quase totalidade dos deputados presentes, 105 em 106, depois dos deputados da oposição terem sido retirados à força do hemiciclo pela polícia paramilitar senegalesa.
O Senegal situa-se na costa oeste africana, é a nação mais próxima do arquipélago de Cabo Verde e faz fronteira a sul com Guiné-Bissau.
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