Foi ao início da tarde da passada sexta-feira que os Serviços Prisionais Federais (FSIN) informaram que Alexei Navalny morreu. Segundo um comunicado, aquele que era considerado o principal opositor do presidente Vladimir Putin sentiu-se mal após uma caminhada e perdeu a consciência. Rapidamente, vários líderes do Ocidente - incluindo o governo português - responsabilizaram o Kremlin pela morte.
Das acusações à recusa das autoridades em entregar o corpo, eis o que se sabe até ao momento:
Segundo os serviços prisionais da região ártica de Yamal-Nenets, onde se situa a colónia penal onde Navalny cumpria uma pena de 19 anos de prisão, "a 16 de fevereiro de 2024, no centro penitenciário n.º 3, o prisioneiro Navalny A.A. sentiu-se mal depois de uma caminhada", estando as causas da morte a "ser apuradas".
O hospital da cidade de Labytnangui, perto da colónia penal, adiantou que os "médicos que chegaram ao local continuaram as operações de reanimação já efetuadas pelos médicos da prisão" durante mais de 30 minutos, mas o óbito acabou por ser declarado no local.
A confirmação da morte
Só no sábado é que a equipa do opositor confirmou a sua morte. Através da rede social X, a porta-voz Kira Yarmysh afirmou que "Alexei Navalny foi assassinado" e exigiu que o corpo "seja imediatamente entregue à sua família".
A porta-voz acrescentou que um funcionário da prisão "declarou que o corpo de Alexei Navalny estava em Salekhard" e tinha sido levado por "investigadores" para "realizar pesquisas".
A equipa acusou ainda as autoridades russas de quererem "apagar o rasto" dos "assassinos" ao recusarem entregar o corpo. "É óbvio que os assassinos querem apagar o rasto. É por isso que não entregam o corpo de Alexei e até o escondem da mãe", escreveu o grupo de Navalny na rede social Telegram.
Ocidente - incluindo Portugal - quer responsabilizar Putin pela morte
Poucos minutos após o anúncio da morte de Alexei Navalny, o Ocidente começou a pronunciar-se e a acusar Putin de ser responsável. O presidente da Letónia, Edgars Rinkevics, foi dos primeiros a afirmar que o opositor "foi brutalmente assassinado pelo Kremlin".
A mulher de Navalny, Yulia Navalnaya, garantiu durante um discurso na Conferência de Segurança de Munique que Putin "todos os que o rodeiam" serão "responsabilizados por tudo o que fizeram" ao país e à sua família.
"Quero que Putin e todos os que o rodeiam saibam que serão responsabilizados por tudo o que fizeram ao nosso país, à minha família. E esse dia chegará muito em breve", garantiu.
Brave beyond words by Navalny's wife, Yulia. She chose to address the Munich Security Conference rather than fly to her children.
— Jason Corcoran (@jason_corcoran) February 16, 2024
● "It's what Alexey would have done," said Yulia, who doesn’t know whether to believe the Putin media. pic.twitter.com/KHSwZv80P9
Seguiram-se reações de vários países e instituições, como a Comissão Europeia, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Amnistia Internacional. Também o Governo português se pronunciou, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, a afirmar que "Putin, que exerceu o seu poder arbitrário prendendo-se em circunstâncias cada vez mais draconianas, é responsável pela sua morte".
Já no sábado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou que Navalny "merece o nosso respeito e admiração pela forma como lutou pelas suas convicções, sabendo os riscos que corria".
O que diz o Kremlin?
A presidência russa considerou "inadmissíveis" as declarações dos líderes ocidentais, que responsabilizaram diretamente o Kremlin pela morte, frisando que ainda são "absolutamente furiosas". Já o próprio Vladimir Putin tem-se mantido em silêncio.
Centenas de detidos em manifestações e vigílias por Navalny
As autoridades de Moscovo alertaram os residentes da capital russa contra quaisquer manifestações não autorizadas, mas centenas de pessoas saíram à rua para homenagear o líder da oposição. Só no sábado mais de uma dezena de pessoas foram detidas junto ao Muro da Dor um monumento dedicado às vítimas da repressão política.
Já segundo OVD-Info, organização que protege os direitos dos opositores detidos, registaram-se mais de uma centena de detidos em várias cidades russas.
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