Em conferência de imprensa de antecipação das reuniões na cidade brasileira do Rio de Janeiro, o secretário de Assuntos Económicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do G20 do Brasil, embaixador Maurício Lirio, respondeu com um pronto "não" ao ser questionado pelos jornalistas sobre o contágio das declarações do Presidente brasileiro.
Israel considerou Lula da Silva 'persona non grata' depois do chefe de Estado brasileiro ter comparado, no fim de semana, as ações israelitas em Gaza ao Holocausto cometido pelos nazis contra os judeus.
As declarações de Lula da Silva desencadearam várias reações diplomáticas de parte a parte, com o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, a convocar o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, para um encontro diplomático no Museu do Holocausto, em Jerusalém.
De seguida, o Governo brasileiro convocou o embaixador israelita em Brasília e chamou para consultas o embaixador brasileiro em Telavive.
Hoje, o Governo brasileiro reforçou a defesa do direito ao território palestiniano perante o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, frisando que a ocupação israelita dos territórios "desde 1967, em violação ao direito internacional e a diversas resoluções da ONU, não pode ser aceite ou normalizada pela comunidade internacional".
"Israel deve colocar um fim à ocupação da Palestina", sublinhou o Governo brasileiro.
Estas tensões diplomáticas acontecem numa altura em que chegam ao Brasil os máximos responsáveis diplomáticos das 20 maiores economias do mundo, mais da União Africana e da União Europeia, autoridades dos países convidados da presidência brasileira, como o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, e representantes de doze organizações internacionais.
A tónica da reunião será precisamente a de resolver "questões urgentes" como os conflitos internacionais e reformas das instituições de governança global.
"Entre os temas mais urgentes a serem discutidos estão a situação no Médio Oriente e a ofensiva russa na Ucrânia, que continuam a gerar preocupações globais em relação à crise humanitária instalada e aos desdobramentos geopolíticos e económicos dos conflitos", frisou a diplomacia brasileira, antes das declarações de Lula da Silva sobre Israel terem sido proferidas.
Para além disso, contrariando os líderes ocidentais que se apressaram a acusar o Kremlin, depois da morte, na semana passada, do opositor russo Alexei Navalny, a diplomacia brasileira não teceu qualquer nota de pesar e, no domingo, em Adis Abeba, Lula da Silva afirmou que "se a morte está sob suspeita, você tem que primeiro fazer uma investigação para saber do que o cidadão morreu".
Dentre os principais nomes confirmados estão o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que se encontra em Brasília e que se reunirá na quarta-feira de manhã com Lula da Silva, e o chanceler russo, Sergei Lavrov.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, estará presente no evento, que conta também com a presença, como convidados, dos chefe da diplomacia de Portugal, João Gomes Cravinho, do secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa, sendo que Angola se fará representar pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, disse à Lusa fonte da diplomacia angolana.
As prioridades da presidência brasileira para o seu mandato à frente do G20 são o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global, nomeadamente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, algo que tem vindo a ser defendido por Lula da Silva desde que tomou posse como Presidente do Brasil, denunciando o défice de representatividade e legitimidade das principais organizações internacionais.
O Brasil, que exerce a presidência do G20 desde o primeiro dia de dezembro de 2023, convidou Portugal, Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega e Singapura para observadores da organização.
Portugal estará presente, ao longo do mandato do Brasil, em mais de 100 reuniões dos grupos de trabalho, em nível técnico e ministerial, em cinco regiões brasileiras, culminando com a Cimeira de chefes de Estado e de Governo, que será realizada no Rio de Janeiro, em 18 e 19 de novembro de 2024.
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