"Em que mundo vivemos quando as pessoas não conseguem comida e água, ou quando as pessoas que não conseguem nem andar não conseguem receber cuidados?", interrogou o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante uma conferência de imprensa em Genebra.
"Em que mundo vivemos quando os profissionais de saúde correm o risco de serem bombardeados enquanto fazem o seu trabalho? Em que mundo vivemos quando os hospitais têm de fechar porque deixou de haver eletricidade ou medicamentos para salvar os pacientes e eles são o alvo dos militares?", acrescentou Ghebreyesus.
O diretor da OMS lembrou que "Gaza tornou-se uma zona de morte", lembrando que "grande parte do território foi destruído, mais de 29 mil pessoas estão mortas, muitas mais estão desaparecidas, presumivelmente mortas, e muitas outras estão feridas".
"Precisamos de um cessar-fogo. Os reféns devem ser libertados, as bombas devem parar de cair e o acesso à ajuda humanitária deve ser possível", disse Ghebreyesus.
Segundo a ONU, 2,2 milhões de pessoas estão ameaçadas de fome na Faixa de Gaza, sitiada por Israel desde o início da guerra.
A ajuda humanitária, sujeita à luz verde de Israel, entra em Gaza principalmente através de Rafah, via Egito, mas o seu transporte para o norte é quase impossível devido à destruição e aos combates que isolam esta região do resto do território.
O conflito em curso entre Israel e o Hamas, que desde 2007 governa na Faixa de Gaza, foi desencadeado pelo ataque do movimento islamita em território israelita em 07 de outubro.
No ataque de 07 de outubro, cerca de 1.200 pessoas foram mortas, na sua maioria civis, mas também perto de 400 militares, segundo os últimos números oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados, com Israel a indicar que mais de 100 permanecem na Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas desde 2007.
Em retaliação, Israel, que prometeu destruir o movimento islamita palestiniano, bombardeia desde então a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas mais de 29.000 pessoas -- na maioria mulheres, crianças e adolescentes -- e feridas cerca de 70.000, também maioritariamente civis. Cerca de 8.000 corpos permanecem debaixo dos escombros, segundo as autoridades locais.
As agências da ONU indicam ainda que 156 funcionários foram mortos em Gaza desde 07 de outubro.
A Comissão de Proteção dos Jornalistas, associação com sede em Nova Iorque, revelou ainda que 70 dos 99 jornalistas e trabalhadores da comunicação social mortos em 2023 foram vítimas de "ataques israelitas a Gaza".
A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, a quase totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave.
A população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.
Desde 07 de outubro, pelo menos 392 palestinianos também já foram mortos pelo Exército israelita e por ataques de colonos na Cisjordânia e Jerusalém Leste, territórios ocupados pelo Estado judaico. Também foram registadas 6.650 detenções e mais de 3.000 feridos.
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