O El Mundo referiu que as autoridades espanholas conheciam desde o primeiro dia o paradeiro do piloto, que no Verão de 2023 desviou um helicóptero Mi-8 das Forças Armadas russas para a Ucrânia.
Na aeronave sequestrada voavam também os aviadores Nikita Kirianov, de 28 anos, e Khushbakht Tursunov, de 35, que se recusaram a participar no plano de Kuzminov, desde o momento em que lhes foi anunciado.
Segundo o comandante da esquadrilha, ambos foram baleados pelas forças ucranianas quando tentavam fugir para a fronteira, mas na imprensa russa surgem outras versões dos acontecimentos.
Na agência Ria-Novósti, a jornalista Victoria Nikóforova indicou que "Kuzminov disse que os dois camaradas que o acompanhavam fugiram e foram baleados por ucranianos", mas alegou que "há todos os motivos para acreditar que foi o próprio desertor que eliminou os seus camaradas, ainda na cabine do aparelho".
"Os prisioneiros de guerra, para mais pilotos graduados, são muito valiosos", argumentou.
"Durante um mês inteiro, Kuzminov foi um herói na Ucrânia. Organizaram-lhe uma entrevista colectiva, prometeram-lhe meio milhão de dólares, fizeram um filme sobre ele, instalaram-no com a mãe, que tinha viajado antecipadamente da Rússia para a Ucrânia, e muniram-no de documentos falsos", acusou.
Em Outubro de 2023, oficiais das secretas russas declararam ao canal VGTRK que Kuzminov "não viveria até ao seu julgamento e que o crime de que era acusado não prescreveria".
Kuzminov pertencia a uma família de pilotos soviéticos e aprendeu a voar ainda na escola. A partir de 2020, começou a servir na Força Aérea Russa. Estava na zona do Distrito Militar Norte desde outubro de 2022.
Segundo a agência, "preparou o crime, depois contactou os ucranianos e ofereceu-lhes os seus serviços".
"A preparação do voo durou seis meses: Kuzminov teve não só de sequestrar o helicóptero, como colher informações secretas sobre as novas aeronaves russas. Entretanto, a mãe mudou-se para a Ucrânia. Até o último dia, Kuzminov manteve excelentes relações com seus camaradas, que não suspeitaram de nada até o momento em que baixou repentinamente o helicóptero para dez metros e, numa zona de silêncio de rádio, o orientou para o lado ucraniano", relatou.
O próprio pai de Kuzminov, Oleg Sivaev, declarou ao canal digital Baza que "traidores não são respeitados em nenhum país" e que o filho "agiu como Judas", manifestando pena por ter traído a pátria e os seus entes queridos por uma ninharia".
A plataforma digital Meduza, ligada à oposição ao Kremlin, afirmou que "o piloto militar Maxim Kuzminov estava abrangido por um plano de protecção ucraniano".
Salientou que Mikhail Podoliak, conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, "confirmou-o numa entrevista ao jornal El Mundo, quando lhe perguntaram como estava Kiev a encarar a morte do piloto russo".
"A máfia russa tem raízes em Espanha. Se um piloto sob protecção muda a sua vida e evita qualquer tipo de contacto, de modo a sobreviver, e mesmo assim morre, a Espanha deve investigar muito bem o que aconteceu e descobrir quem praticou este crime", defendeu a Meduza.
O jornal espanhol El Periódico escreveu que o "corpo de Kuzminov foi encontrado com cinco entradas de balas, com documentos de Igor Chevchenko, nome de um ucraniano que teria 33 anos idade". Acrescentou que foram vistos dois suspeitos a abandonarem o local do crime, que terão abandonado a Espanha logo de seguida.
Nikóforova considerou que a fuga de Kuzminov "não representa qualquer ajuda para os ucranianos no campo de batalha".
"Mesmo que Kuzminov tivesse levado, como afirmou, algumas peças sobressalentes dos Su-27 e Su-30, isso não permitirá a Kiev lançar-se imediatamente na produção de caças modernos", apontou.
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