Viúva de ex-espião russo quer que eleições russas não sejam reconhecidas

A viúva do ex-espião russo Alexander Litvinenko, instou hoje os países ocidentais a não reconhecerem o resultado das eleições presidenciais russas em resposta à morte do opositor Alexei Navalny.

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Lusa
28/02/2024 16:39 ‧ 28/02/2024 por Lusa

Mundo

Marina Litvinenko

"Acho que a única reação ao que aconteceu com Alexei Navalny, a qualquer opositor russo e a quem ainda está na prisão é: não reconheçam esta eleição. Não chamem a Vladimir Putin o novo presidente eleito", defendeu Marina Litvinenko hoje em Londres, numa conferência de imprensa organizada pela Associação de Imprensa Estrangeira.

Para Marina Litvinenko, não reconhecer Putin como Presidente da Rússia "seria a mensagem mais forte para a Rússia, para o povo russo", designando-o apenas de "Senhor Vladimir Putin ou Herr Vladimir Putin"

"Esta é uma situação semelhante à que aconteceu com [Alexander] Lukashenko. A sua eleição não foi reconhecida e ninguém chamou a Lukashenko de Presidente da Bielorrúsia. Por que não deveríamos fazer o mesmo, se esta eleição é injusta?", argumentou.

Lukashenko, aliado de Moscovo, conquistou o sexto mandato consecutivo em 2020 com 80% dos votos, mas o resultado das eleições não foi reconhecido pela União Europeia, que mantém sanções contra Minsk por violação dos direitos humanos e repressão política.

Vladimir Putin é o favorito nas eleições presidenciais russas agendadas para entre 15 e 17 de março, nas quais concorrem mais três candidatos: o representante do Partido comunista, Nikolay Kharitonov; o ultranacionalista Leonid Slutsky; e o representante do partido Gente Nova, Vladislav Davankov.

Putin alterou a Constituição em 2020 para permitir a sua reeleição, o que poderá fazer novamente dentro de seis anos e, assim, permanecer no Kremlin até 2036.

O opositor Boris Nadezhdin, que se propunha fazer campanha contra a guerra na Ucrânia, foi impedido de concorrer.

Navalny, um dos principais opositores de Vladimir Putin, morreu em 16 de fevereiro, aos 47 anos numa prisão do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos, em circunstâncias suspeitas, apesar de as autoridades invocarem doença súbita.

Alexander Litvinenko, um agente do KGB exilado no Reino Unido e crítico de Putin, morreu aos 43 anos em 23 de novembro de 2006 envenenado com polónio 210, uma substâncias radioativa bastante tóxica.

Para a viúva, o caso do marido é indicativo do que aconteceu com Alexei Navalny e da forma de Putin operar.

"Existe uma forma sistemática de silenciar os opositores, matando-os", acusou.

A dirigente da Associação Democrática Russa, Ksenia Maksimova, concordou que "Putin não pode ser reconhecido como um Presidente legítimo" e que este pode ser um primeiro passo para iniciar um processo democrático na Rússia.

"Sem isso, este processo não pode ser iniciado e os russos dentro e fora da Rússia não serão reconhecidos como pessoas oprimidas, o que essencialmente são", defendeu a ativista baseada em Londres.

Por outro lado, sugeriu que "os líderes da oposição se juntem e elaborem um plano" para avançar com a democratização da Rússia, em diálogo com governos aliados.

No entanto, o cofundador da Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny, Vladimir Ashurkov, avisou que "não existe solução mágica que a oposição russa ou os governos ocidentais possam utilizar para acabar com a guerra [na Ucrânia] e livrar-se de Putin".

"É uma questão de trabalho consistente. A nossa premissa sempre foi de que o regime de Putin pode parecer estável, mas está a tornar-se cada vez mais frágil. E o nosso objetivo como organização política profissional é ser a força política mais organizada quando as coisas na Rússia começarem a mudar", explicou.

Leia Também: Ocidente deve passar "das palavras aos atos", diz viúva de Litvinenko

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