"Quero convocar tanto os governadores quanto ex-presidentes e líderes dos principais partidos políticos para uma rendição dos nossos interesses pessoais e para que nos encontremos no próximo dia 25 de maio, na província de Córdoba, para assinarmos um novo contrato social chamado 'Pacto de Maio': um contrato social que estabeleça os dez princípios da nova ordem económica argentina", disse Javier Milei num discurso no Parlamento por ocasião da abertura das sessões legislativas, na sexta-feira, já na madrugada de hoje em Lisboa.
O dia 25 de Maio de 1810 marcou o primeiro grito de liberdade que derivou na independência da Argentina seis anos depois. A data é considerada pelos argentinos ainda mais importante do que a própria independência e funciona como uma metáfora para os planos de liberdade do Presidente Milei.
"Esse 'Pacto de Maio' terá como finalidade estabelecer as dez políticas de Estado que o país precisa para abandonar a trilha do fracasso e começar a percorrer o caminho da prosperidade", apontou Milei.
O líder enumerou cada um dos pontos que considera ser a base para o país sair da crise estrutural: a inviolabilidade da propriedade privada, o equilíbrio fiscal, a redução do gasto público a 25% do produto interno bruto (PIB), uma reforma tributária, uma revisão do regime de verbas da União às províncias, um compromisso por parte das províncias de avançarem com a exploração dos recursos naturais, uma reforma laboral moderna, uma reforma no sistema de pensões, uma reforma política e a abertura do comércio internacional.
"Essas dez ideias são a base do progresso de qualquer nação", definiu Milei perante os legisladores.
No entanto, o Presidente colocou como condição para um consenso de base para o país a aprovação do pacote de leis conhecido como "Lei Bases", rejeitado pela Câmara de Deputados em janeiro. Juntamente com essa condição, Milei acrescentou um "pacote de alívio fiscal para as províncias", para seduzir os governadores provinciais.
"Aprovadas as duas leis (Lei Bases e Alívio Fiscal) como mostra de boa vontade, poderemos começar a trabalhar num documento comum baseado nesses dez princípios do "Pacto de Maio', dando início a uma nova época de glória para o nosso país", apontou Milei.
Com apenas 15% da Câmara de Deputados e 10% do Senado, o Governo de Milei tem uma minoria parlamentar que o impede de avançar com um ambicioso plano de desregulamentação do Estado e de reformas estruturais.
A estratégia do dirigente é deixar em evidência perante a sociedade quem está a favor e quem está contra a mudança do país, pela qual uma maioria votou nas eleições de novembro passado, quando Milei ganhou com 55,7% dos votos.
"Caberá a vocês saberem aproveitar a oportunidade de mudar a história ou continuar por este caminho da decadência. Veremos quem está sentado à mesa a trabalhar pelos argentinos e quem pretende continuar por este caminho de servidão", desafiou.
Milei avisou que "vai ordenar as contas fiscais com ou sem a ajuda dos dirigentes políticos". "Se a política apoiar, faremos mais rápido, melhor e com menor custo social", disse.
"Devo ser honesto e dizer-vos que não tenho muitas esperanças de que aceitem esse caminho. Acredito que a corrupção, a mesquinharia e o egoísmo estão muito estendidos. Porém, embora eu não tenha muitas esperanças, não as perdi. Quero que me demonstrem que estou errado. Quero desafiar-vos a demonstrarem que estou errado em desconfiar de muitos de vocês", interpelou Milei com o habitual estilo frontal.
Javier Milei disse que "não escolhe o caminho da confrontação política, mas que também não foge do confronto".
"Se escolherem o caminho da confrontação, encontrarão um animal muito diferente daquele com o qual estão acostumados, porque ao contrário de alguns que estão aqui, a política para nós [Governo] não é um fim em si mesmo. Não vivemos da política e não temos ambição de poder. Temos sede de mudança. Não pensamos na nossa carreira política. A nossa causa sagrada é a defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada dos argentinos", advertiu Milei, encerrando mais de uma hora de discurso com o clássico "Viva la libertad, carajo" (Viva a liberdade, caramba).
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