Olga Galkina foi membro do parlamento em São Petersburgo e deputada municipal. Nunca planeou deixar a Rússia, mas em março de 2022, já depois da invasão da Ucrânia, foi constituída arguida num processo-crime por "terrorismo telefónico", depois de a polícia ter efetuado uma busca na sua casa.
"A pena podia ir até sete anos de prisão. Tive de escolher, maternidade ou ativismo. Naturalmente, escolhi os meus filhos, que tinham na altura seis e nove anos. Estavam muito assustados (...) Partimos em meados de março de 20022 e são já dois anos de emigração forçada", conta, em entrevista à agência Lusa.
Na política há duas décadas, Olga Galkina não cruzou os braços e, em Berlim, trabalha no Reforum Space Berlim, um espaço para jornalistas, ativistas, investigadores e artistas. Acredita que, mesmo longe da Rússia, é possível influenciar o que lá se passa.
"Trabalhamos com os políticos europeus. É importante fazê-los compreender que Vladimir Putin é um assassino e um criminoso de guerra. É impossível negociar com ele. É importante dizer-lhes o que está a acontecer na Rússia. É importante que não aceitem os resultados das eleições e que não considerem Putin um presidente legítimo", revela.
"Somos a voz dos russos contra a guerra, ajudamos os presos políticos, corrigimos o pensamento dos que são a favor da guerra", detalha Galkina.
O Reforum Space Berlim tem como missão ajudar os que fugiram das perseguições na Rússia. Um trabalho que também é feito pela organização Demokrati-JA, que surgiu em 2021, e aumentou a sua atividade a partir do início da guerra, em fevereiro de 2022.
"Começámos a organizar manifestações todas as semanas. Durante três meses organizámos 12 protestos. Queríamos estar nas ruas de Berlim para mostrar o quanto nós, russos, estamos contra esta invasão da Ucrânia", aponta Elena Gaeva, cofundadora da Demokrati-JA.
"Estivemos a reunir assinaturas em Berlim para que o candidato antiguerra Boris Nadezhdin se pudesse apresentar às eleições. Ele precisava de 100 mil assinaturas. Esta ação deu-nos muito alento porque foi uma forma de influenciarmos as eleições na Rússia estando aqui, na Alemanha. Em geral, estando fora da Rússia, há muito pouco que se possa fazer para influenciar o que lá acontece", lamenta.
"A Rússia costumava ser tratada por vários cientistas políticos como uma autocracia eleitoral. Penso que o termo mudou um pouco para ditadura. No entanto, as eleições continuam a ser uma parte importante do sistema. Ajudam-nos a verificar a sua legitimidade", acredita a ativista russa a viver na Alemanha.
Para Gaeva não há muitas dúvidas de que Putin irá ganhar porque "é assim que o sistema funciona".
"Haverá sempre urnas algures na Rússia onde tudo foi calculado corretamente, e é importante detetá-las para que possamos ter uma visão da verdadeira opinião pública. Para podermos considerar a eleição 'ilegítima, precisamos de apresentar provas. Por isso, é importante que haja observadores independentes e que as sondagens à boca das urnas se realizem, antes de mais, na Rússia", salienta.
Para o politólogo e historiador Dmitri Stratievski, diretor do Osteuropa-Zentrum de Berlim (OEZB), a oposição russa encontra-se atualmente numa "situação difícil".
"Não se trata de eleições, mas sim de uma medida de legitimação de Putin, sem quaisquer características de um processo eleitoral", sublinha, em declarações à Lusa.
"Os russos exilados têm poucas ferramentas para influenciar a situação no seu país de origem. Uma função importante continua a ser a de informar os seus compatriotas de forma independente sobre o que está a acontecer no mundo, incluindo a guerra russa contra a Ucrânia", aponta, acrescentando que o Youtube e o Telegram ainda não estão proibidos na Rússia.
A informação "honesta e fiável" é atualmente "a arma mais importante" contra o regime de Putin, defende Dmitri Stratievski.
A Demokrati-JÁ vai organizar várias ações no dia 17 de março, um dos três dias em que ocorrem as votações na Rússia.