Num pronunciamento à imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque, Guterres assinalou o início do mês sagrado do Ramadão, "um período em que os muçulmanos em todo o mundo celebram e difundem os valores da paz, reconciliação e solidariedade", e recordou que, apesar desse momento, os "assassínios, bombardeamentos e o derrame de sangue continuam em Gaza".
"O meu apelo mais forte hoje é honrar o espírito do Ramadão, silenciando as armas -- e removendo todos os obstáculos para garantir a entrega de ajuda vital à velocidade e à escala massiva exigidas", instou o líder das Nações Unidas em relação à situação no enclave.
"Os olhos do mundo estão a ver. Os olhos da história estão a ver. Não podemos desviar o olhar. Devemos agir para impedir mais mortes evitáveis", acrescentou.
Ao mesmo tempo, invocando o espírito de compaixão do Ramadão, o secretário-geral apelou à libertação imediata de todos os reféns.
"Temos testemunhado, mês após mês, matança e destruição de civis a um nível sem precedentes em todos os meus anos como secretário-geral. Entretanto, a ajuda vital aos palestinianos em Gaza está a chegar a conta-gotas -- se é que chega sequer", disse.
"O direito humanitário internacional está esfarrapado. E uma ameaça de ataque israelita a Rafah poderia mergulhar o povo de Gaza num círculo de inferno ainda mais profundo", salientou Guterres.
O ex-primeiro-ministro português recordou os encontros que tem mantido ao longo dos últimos meses com famílias das vítimas da guerra entre o Israel e o grupo islamita Hamas, destacando a "coragem notável" e a "dor insondável" que testemunhou.
Enquanto as famílias de reféns israelitas imploraram que o Hamas liberte imediatamente os seus entes queridos, observou Guterres, as famílias palestinianas que perderam familiares dos bombardeamentos israelitas imploraram por um cessar-fogo imediato.
"Como disse um desses familiares: 'Não estamos aqui para receber condolências. Não estamos aqui por desculpas. Estamos aqui para ação imediata'. Isso é pedir muito? Devemos ouvir e prestar atenção a essas vozes. Civis desesperados precisam de ação imediata", reforçou o líder da ONU.
Também a situação no Sudão foi alvo dos apelos de António Guterres, que instou à cessação das hostilidades no país durante o Ramadão.
Os combates no Sudão, um país em guerra onde 18 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar aguda, "devem acabar para o bem do povo sudanês que enfrenta a fome, os horrores e dificuldades incalculáveis", frisou Guterres.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou na semana passada uma resolução que apelava à cessação imediata das hostilidades no Sudão durante o período do Ramadão.
Os combates, que decorrem desde 15 de abril de 2023 entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane e as forças paramilitares do general Mohammed Hamdane Daglo, antigo segundo comandante das forças armadas, causaram milhares de mortos nesta nação onde a grande maioria é muçulmana.
"Em Gaza, no Sudão e noutros lugares, é tempo de paz. Apelo aos líderes políticos, religiosos e comunitários de todo o mundo para que façam tudo o que estiver ao seu alcance para tornar este período sagrado um momento de empatia, ação e paz", enfatizou.
"É hora de acabar com o terrível sofrimento. Agora é a hora de fazê-lo", concluiu Guterres.
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