Mais flores que pessoas marcam os dias junto ao túmulo de Navalny

Mais flores que pessoas marcam os dias junto ao túmulo do opositor 'número um' do Presidente russo, que ainda mobiliza russos que reconhecem Alexei Navalny como um herói na contestação ao regime de Vladimir Putin.

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Lusa
12/03/2024 10:19 ‧ 12/03/2024 por Lusa

Mundo

Rússia

Numa manhã de Primavera, o ar de Moscovo está fresco mas a cidade cheia de Sol. Pelo meio dia, no cemitério de Borissovsky, uma pequena montanha de flores cobre a campa, rodeada por uma dezena de pessoas, a maioria jovens, em atitude de profunda meditação.

Milhares rodearam no dia 1 de março o cemitério durante o funeral vigiado por um forte dispositivo das forças de segurança russas, mas desde então, a romaria ao túmulo do opositor não tem mobilizado da mesma forma os 13 milhões de moscovitas.

Um dos polícias de plantão junto ao portão disse à agência Lusa que "uns dias vêm mais pessoas, outros menos".

"Mas nunca vimos aqui uma multidão, nem nada que se parecesse. Sim, aos sábados e domingos aparecem mais pessoas, o que se compreende". E tirar fotografias? "Daqui, pode tirar-se as fotografias que se quiser, mas no interior do cemitério, só com autorização especial", advertiu.

O túmulo do ativista político está a escassos metros da entrada principal deste pequeno cemitério no sudeste da capital russa, guardado por um imponente portão de ferro.

Depois de cumprirem a homenagem ao seu político de eleição, as pessoas dão dois passos e estão no passeio exterior.

Igor Alexandrov, que caminhava já para uma paragem de autocarro situada nas imediações, parou para dizer à Lusa que "são momentos de tristeza, porque a vida é também feita deles".

"Senti-me na obrigação de me despedir do Alexei, pois não pude ir ao funeral. Muitos dos meus amigos foram, mas eu não, devido a responsabilidades académicas. Não, os políticos não são todos iguais, Navalny era um lutador nato, não virava a cara ao combate, mesmo que isso fosse perigoso. Tinha ideas claras quanto ao futuro do nosso país, quanto às políticas actuais, que não prestam, quanto à evolução de todos os sectores da sociedade", disse o jovem com cerca de 20 anos, muito concentrado e de olhar direito.

"Agora, não me importa como morreu. Se houve crime, os autores devem ser castigados severamente, mas sempre no quadro da lei. Ao menos, que a imagem de Alexei Navalny perdure como um exemplo, sobretudo, para as gerações mais novas", defendeu Alexandrov.

A morte de um dos mais entusiastas opositores a Putin numa prisão russa encravada no norte siberiano foi anunciada pelas autoridades prisionais a 16 de fevereiro último.

As autoridades declararam, após investigação e autópsia, que o falecimento se dera por causas naturais, enquanto várias personalidades e instituições ocidentais acusaram o Kremlin pelo sucedido.

Quando Igor saía do cemitério, Marina Apukhtina entrava com um ramo de flores na mão, ao qual estava apensa uma pequena imagem do opositor a Putin.

Taciturna, admitiu à Lusa: "Sim, venho prestar homenagem a um herói do nosso tempo".

"Não é fácil ser do contra aqui. Bom, porventura, noutros países também não o será. Mas o que me interessa, como russa, é o meu país. Navalny soube mobilizar as pessoas, soube incutir-lhe certas ideias que, a serem levadas à prática, melhorariam acentuadamente o país. Acho que divulgava ideias frescas, ideias que nos tocavam, que nos ofereciam perspectivas que assustam os políticos de hoje", declarou.

Marina, de olhos tristes e tranquilos, sobressalta-se quando questionada em relação à opinião declarada por Alexei Navalny em relação à "operação especial" russa na Ucrânia, o eufemismo oficial para a invasão de 24 de fevereiro de 2022.

"É verdade que ele disse apoiar a acção militar russa contra a Ucrânia, mas parece-me que só a apoiou nos primeiros tempos. Depois, nunca mais abordou o tema. Aliás, devo dizer que a esmagadora maioria dos russos apoiam Putin nesse aspeto", afirmou, olhando para o relógio.

Pediu desculpa pela falta de tempo, despediu-se e, passados poucos segundos, estava a acrescentar o seu ramo de flores à pequena montanha florida que cobre a campa de Navalny.

As eleições presidenciais russas, às quais Navalny nunca concorreu, mas que eram o seu grande sonho, estão marcadas para o próximo fim-de-semana, de 15 a 17.

Veja as imagens na galeria acima.

Leia Também: Morte de Navalny sinaliza fim de aspiração democrática, diz analista

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