O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido está a fazer pressão para obter uma investigação a relatos de que médicos na Faixa de Gaza enfrentaram tratamento violento e humilhante após serem detidos por forças israelitas, no âmbito de um raide ao hospital de Nasser.
A história foi inicialmente contada pela BBC, revelando que dezenas de médicos estiveram nestas condições, alegadamente despidos até ficarem em roupa interior, com os olhos tapados. Terão sido espancados e submetidos a outros tratamentos violentos e humilhantes, diz a cadeia televisiva.
Entre os testemunhos está o do médico Ahmed Abu Sabha, de 26 anos, que diz que foi detido durante uma semana, período durante o qual cães com açaimes o terão atacado e a sua mão terá sido partida por um interrogador.
O secretário de Estado britânico dos Negócios Estrangeiros, Andrew Mitchell, disse à Câmara dos Comuns que o governo de Londres está a fazer pressão para ter uma investigação e uma "explicação cabal", citado pelo The Guardian.
"No que toca a operações direcionadas, há advogados integrados no comando israelita e nas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), assim como há no Reino Unido, e isso deve garantir que a aceitação e o respeito ao direito humanitário internacional sejam mantidos, mas concordo com [Winters] que é necessária uma explicação completa", disse Mitchell, respondendo à parlamentar do Pratido Trabalhista Bethan Winter.
"Qualquer abuso dos detidos é contrário às ordens e, portanto, estritamente proibido", lê-se, por sua vez, num comunicado das IDF em resposta às questões da BBC.
O raide - baseado em suposta informação de que o grupo islamita Hamas estaria a operar desde o hospital - foi descrito pelas forças israelitas como "preciso e limitado".
A 07 de outubro do ano passado, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e cerca de 250 reféns, 130 dos quais permanecem em cativeiro, segundo as autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível à Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente. Fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 31.184 mortos, mais de 72.000 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.
O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome que já está a fazer vítimas.
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