"O ataque de hoje a um dos poucos centros de distribuição [de ajuda] restantes da UNRWA na Faixa de Gaza ocorre num momento em que os alimentos estão a acabar [e] a fome é generalizada", denunciou o chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, numa declaração em que culpou Israel pelo bombardeamento.
"Todos os dias partilhamos as coordenadas de todas as nossas instalações na Faixa de Gaza com as partes em conflito. O Exército israelita recebeu ontem as coordenadas desta instalação", acrescentou.
O centro, localizado a leste da área de Rafah, no sul do enclave e onde estão reunidos mais de 1,4 milhões de deslocados de Gaza, foi alegadamente bombardeado pelas forças aéreas israelitas, resultando na morte de cinco pessoas e pelo menos 22 feridos.
"Um funcionário da UNRWA, um polícia e três civis morreram no ataque de hoje", adiantaram à agência Efe fontes do serviço de emergência de Gaza.
Questionado sobre o incidente, o porta-voz do Exército israelita não respondeu nem deu à Efe detalhes sobre o sucedido.
A UNRWA denuncia a morte de pelo menos 165 dos seus funcionários ou membros nesta guerra, "mesmo enquanto faziam o seu trabalho".
Segundo o governo de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 400 habitantes do enclave morreram em ataques enquanto aguardavam a distribuição de alimentos - ou a chegada de comboios de ajuda - em apenas duas semanas, depois de 118 terem morrido em 29 de fevereiro, num incidente apelidado agora como o "Massacre da Farinha".
Nesse dia, enquanto milhares de pessoas esperavam a chegada de um comboio com alimentos à Cidade de Gaza, as tropas israelitas dispararam contra a multidão "quando se sentiram ameaçadas", de acordo com um porta-voz militar, que garantiu, no entanto, que a maioria das vítimas morreu numa debandada causada pela multidão.
Esta terça-feira, outras nove pessoas morreram e vinte ficaram feridas num outro ataque israelita contra civis que aguardavam a chegada de um comboio humanitário, novamente, na Cidade de Gaza, no norte da Faixa.
Nessa zona o Programa Alimentar Mundial (PAM) conseguiu, pela primeira vez depois de três semanas sem ajuda externa, distribuir alimentos a cerca de 24.000 pessoas, depois de Israel ter permitido a utilização de uma estrada militar, perto do 'kibutz' de Beeri, por onde acederam à zona norte, a zona mais afetada pela fome.
Apesar da crescente pressão internacional e das advertências de Washington de que Israel não deveria cruzar a "linha vermelha" de atacar Rafah -- falhando em garantir a segurança da população civil -- o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, deu hoje a entender que uma expansão terrestre é apenas uma questão de tempo.
"Mesmo aqueles que pensam que estamos a atrasar [o ataque] logo verão que chegaremos a todos [os militantes do Hamas]", frisou Gallant, numa visita às tropas da 162.ª divisão posicionada no oeste da Cidade de Gaza, posição também reforçada esta terça-feira pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já provocou mais de 31 mil mortos e mais de 73.000 feridos, de acordo com o Hamas, que controla o território desde 2007.
A ONU denunciou hoje que o número de crianças mortas pelos bombardeamentos em Gaza é superior ao número de crianças mortas em todas as guerras dos últimos quatro anos.
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