O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está a ser investigado pela alegada posse indevida de documentos governamentais com informação sensível após ter deixado o cargo de vice-presidente do país, em 2017.
Em simultâneo, o antigo presidente norte-americano Donald Trump enfrenta também problemas semelhantes junto da Justiça, por, alegadamente, ter mantido na sua posse de forma indevida documentos governamentais com informações sensíveis após deixar a presidência, em 2020. Foi acusado de deter ilegalmente documentos confidenciais.
A cadeia televisiva CBS News realçou as diferenças entre os dois casos, que têm sido frequentemente comparados.
O conselheiro especial Robert Hur ficou encarregue de investigar o caso de Biden, em que as autoridades recuperaram dezenas de documentos com informação sensível, que o agora presidente manteve após a sua vice-presidência, sobre assuntos como o papel militar e diplomático dos EUA no Afeganistão.
Tinha, também, notas escritas sobre segurança nacional e política externa, contendo 37 entradas que se referiam a informação classificada, incluindo "planos e capacidades de organizações terroristas estrangeiras".
Na terça-feira, perante o Comité Judiciário da Câmara de Representantes do Congresso, Hur concluiu que Biden não deve enfrentar acusações criminais pelo uso indevido de documentos.
Já Jason R. Baron, ex-diretor da secção de litígios do Arquivo Nacional norte-americano, afirmou ainda que "é fácil entender que [Biden] acreditava que este material era de natureza pessoal e que tinha o direito de levá-lo para casa", algo que "contrasta muito com o facto de o ex-presidente Trump ter centenas de documentos oficiais com conteúdo ultrassecreto e outras anotações classificadas na sua residência".
Mas... e quanto a Donald Trump?
Trump, por sua vez, é acusado de reter documentos na sua residência em Mar-a-Lago, na Florida, que contêm - alegadamente - informações sobre programas nucleares norte-americanos, bem como as suas capacidades de defesa e de armamento. Informações estas que, dizem, os investigadores, terão sido preparadas por agências como a CIA e a NSA, assim como o Pentágono e o Departamento de Energia.
O antigo presidente e candidato republicano às eleições de novembro aproveitou o apelo de Hur para que Biden não seja acusado criminalmente para exigir que o seu caso tenha o mesmo desfecho. Argumentou, também, que a decisão do conselheiro especial é prova de que o Departamento de Justiça tem motivações políticas.
Na investigação a Trump, foram recuperados cerca de 300 documentos com informações classificadas, entre janeiro e agosto de 2022. Os investigadores alegam, no entanto, que Trump ter-se-á resistido durante vários meses a entregar os documentos.
Já no caso de Biden, diz a CBS, foi o próprio advogado do agora recandidato democrata à presidência quem descobriu documentos com informação governamental sensível, em novembro de 2022, no Penn Biden Center, em Washington. O jurista notificou a Casa Branca, que por sua vez avisou os Arquivos Nacionais. Dois dias depois, o Departamento de Justiça ficou a saber e iniciou-se o processo de recuperação dos documentos.
Em dezembro, mais documentos foram encontrados na garagem da casa do presidente norte-americano em Wilmington e o caso tornou-se público em janeiro de 2023.
As diferenças nas respostas de Trump e de Biden
No seu relatório, o conselheiro especial Hur esclareceu que Biden "entregou documentos confidenciais ao Arquivo Nacional e ao Departamento de Justiça, consentiu na busca em vários locais, incluindo casas, sentou-se para uma entrevista voluntária e de outras maneiras cooperou com a investigação", ao passo que Trump, "após ter múltiplas oportunidades de devolver documentos confidenciais e evitar processos", supostamente "fez o oposto".
"De acordo com a acusação, [Trump] não apenas recusou devolver os documentos durante muitos meses, mas também obstruiu a justiça ao recrutar outros para destruir provas e depois mentir sobre isso", afirmou o relatório de Hur.
Ao mesmo tempo, Scott Fredericksen, antigo procurador federal citado pela CBS, assegura que a quantidade de documentos encontrados na posse de Biden significa "uma fração" do número de documentos que Trump tinha consigo. "As provas de obstrução, mentiras... é isto que reflete a intencionalidade da conduta", disse, sobre o caso do republicano.
Joe Biden e Donald Trump estarão frente a frente nas eleições presidenciais de novembro deste ano, em que o democrata procurará a reeleição, ao passo que o republicano procura regressar ao lugar que perdeu em 2020.
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