"A chave, na minha opinião, é algo que os cientistas políticos russos identificaram uma vez, e que eu concordo, que é (o Presidente chinês) Xi Jinping e (o Presidente russo) Putin são amigos não porque a Rússia é boa para a China ou porque a China não tem um conflito nacional com a Rússia. São os melhores amigos principalmente porque acreditam nas mesmas ideias. São amigos em termos de valores, são autocratas e querem manter-se no poder para sempre", disse.
Em entrevista à agência Lusa, o professor do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA) acrescentou ainda que os dois líderes "não gostam dos Estados Unidos, e então, por definição, por extensão, também não gostam muito da Europa".
Por isso, adianta, "não se trata, de todo, de um interesse nacional chinês".
O académico observou como Pequim foi apanhado num beco sem saída em relação à invasão russa da Ucrânia, porque pouco antes, China e Rússia assinaram muitos acordos, com os Presidentes "basicamente a dizer: temos a melhor relação do mundo, sem limites".
Assim, depois da invasão, em fevereiro de 2022, a China passou a "fazer acrobacias numa corda", a "tentar equilibrar-se" porque, por um lado, o apoio de Xi Jinping à Rússia coloca-o em cheque perante o Ocidente e como um alvo de sanções, mas, por outro lado, não há o desejo de recuar nos acordos assumidos, explica o autor do livro "The China Race: Global Competition for Alternative World Orders", apresentado em Lisboa, no âmbito das Conferências da Primavera do Centro Científico e Cultural de Macau.
"(Os dois países) Estão a trabalhar arduamente. Há muitos rumores e muitos deles são reais. Por exemplo, a China está claramente a apoiar a Rússia, até agora, com muito dinheiro. A China está a comprar petróleo e gás russos, em grandes quantidades. A China elaborou um enorme plano de ajuda a outros países -- Faixa e Rota, etc", além do apoio em termos de "tecnologia, peças e equipamento militares", referiu Wang.
Fei-Ling Wang enumerou ainda um "terceiro rumor que diz que a China está a usar a Coreia do Norte como substituto para enviar equipamento militar e armas para a Rússia, como munições, o que ainda não foi fundamentado. "Mas o apoio chinês em dinheiro é claro", considera.
"E apesar do facto de a Ucrânia ter ajudado muito a China no domínio da tecnologia militar" em termos de "tecnologia militar soviética muito importante, os dirigentes chineses consideram que Putin é um amigo mais importante, do ponto de vista político", argumentou.
Assim, o investigador não espera mudanças sobre o posicionamento de Pequim quanto ao apoio a Putin, ou seja um apoio que não ultrapassará o ponto em que haja sanções, recordando o exemplo dos Estados Unidos de sancionarem empresas chinesas, mas não o país ou o sistema financeiro chinês.
Neste âmbito, os norte-americanos avaliam cada vez mais a China a "jogar nos dois lados, o que não é bom para a credibilidade de um grande país", referiu Wang.
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