"Exprimimos o nosso apreço face à posição da Rússia, da China e da Argélia que rejeitaram a tendenciosa resolução americana", indicou o movimento islamita em comunicado, ao denunciar designadamente a "formulação enganadora" desse texto.
O texto, da autoria de Washington, recebeu 11 votos a favor, uma abstenção - da Guiana - e três votos contra, entre eles da Rússia e da China, dois membros permanentes do Conselho de Segurança com poder de veto, além da Algéria.
A resolução, proposta após mais de cinco meses de guerra, marcou a primeira vez que os Estados Unidos pediram um cessar-fogo imediato em Gaza no Conselho de Segurança, após terem vetado vários projetos de resolução apresentados por outros países.
Contudo, mesmo antes da votação, o embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, já havia sinalizado que iria rejeitar a proposta de Washington, acusando o Governo norte-americano de tentar agradar ao eleitorado com a "menção a um cessar-fogo em Gaza" e de tentar "garantir a impunidade de Israel".
O diplomata russo acusou ainda o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, de "enganar a comunidade internacional".
"Quase seis meses se passaram, Gaza foi praticamente varrida da Terra e, agora, a representante dos EUA, sem pestanejar, vem afirmar que Washington começou finalmente a reconhecer a necessidade de um cessar-fogo. Este lento processo de pensamento de Washington custou a vida de 32.000 palestinianos pacíficos", criticou Nebenzya, recordando que os norte-americanos vetaram três outras resoluções que exigiam um cessar-fogo no enclave.
Concretamente, a Rússia opôs-se à linguagem usada na resolução, a qual classificaram de "extremamente politizada".
Ao contrário de outras resoluções, em que o Conselho de Segurança "exigia" uma determinada ação, o texto norte-americano "determinava" o "imperativo de um cessar-fogo imediato e sustentado" para proteger os civis -- uma linguagem que não agradou a várias delegações.
O embaixador russo avaliou que o termo "determina" não é suficiente "para salvar as vidas de civis palestinianos", frisando que o mandato do Conselho de Segurança da ONU está investido de um mecanismo único para exigir um cessar-fogo e, quando necessário, para obrigar ao seu cumprimento.
"Já afirmámos que não toleraremos mais resoluções inúteis que não contenham um apelo a um cessar-fogo que não nos leve a lado nenhum", declarou Nebenzya.
A Rússia e a China também consideraram que o projeto dos EUA contém "uma luz verde efetiva" para Israel montar uma operação militar em Rafah.
A Guiana, único país a abster-se, justificou o seu voto com o facto de a resolução norte-americana não exigir um cessar-fogo imediato, mas apenas "determinar o imperativo" do mesmo.
Após o voto, Linda Thomas-Greenfield criticou Pequim e Moscovo pelo veto, em mais uma troca de acusações entre as três potências.
"A grande maioria deste Conselho votou a favor desta resolução, mas infelizmente a Rússia e a China decidiram exercer o seu veto (...) por razões profundamente cínicas e mesquinhas. (...) A China e a Rússia simplesmente não quiseram votar a favor de uma resolução que foi projetada pelos Estados Unidos porque preferem ver-nos fracassar do que ver este Conselho ter sucesso", argumentou.
"Todos sabemos que a Rússia e a China não estão a fazer nada diplomaticamente para promover a paz duradoura ou para contribuir significativamente para o esforço de resposta humanitária", acrescentou a representante dos EUA.
A votação de hoje marcou a nona vez que o Conselho de Segurança votou um projeto de resolução sobre a guerra entre Israel e o Hamas. Apenas dois dos oito projetos de resolução votados anteriormente pelo Conselho foram adotados, e nenhum deles dizia respeito a um cessar-fogo.
Entretanto, parte dos 10 Estados-membros eleitos do Conselho de Segurança têm estado a redigir a sua própria resolução, que exigiria um cessar-fogo humanitário imediato durante o mês sagrado muçulmano do Ramadão, que começou em 10 de março, para ser "respeitado por todas as partes, levando a um cessar-fogo permanente e sustentável".
Na sua versão atual, esse projeto de resolução -- que poderá ser votado sábado - exige também a libertação imediata e incondicional de todos os reféns.
Contudo, a embaixadora norte-americana considerou que, "na sua forma atual", esse texto pode comprometer as negociações em curso e "poderá dar ao Hamas uma desculpa para se afastar do acordo que está sobre a mesa".
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