Os dois ataques noturnos foram descritos pelo exército como tendo por objetivo "neutralizar terroristas e alguns dos seus veículos", mas a AI refutou estas declarações com os testemunhos de sete sobreviventes que foram entrevistados pela organização não-governamental (ONG).
De acordo com estes testemunhos, o primeiro ataque atingiu um veículo e o segundo um abrigo onde os habitantes locais se tinham refugiado, em Amasrakad, 160 quilómetros a norte da cidade de Gao.
Segundo a AI, é "inaceitável" que famílias inteiras sejam mortas por ataques feito com recursos a drones [aparelhos aéreos não tripulados] , sem que os autores sejam responsabilizados ou que seja feita justiça.
"As autoridades do Mali têm de cumprir as suas responsabilidades ao abrigo do direito internacional, que exige que todas as partes num conflito armado façam a distinção entre civis e combatentes e se abstenham de realizar ataques dirigidos ou indiscriminados contra civis", declarou a diretora regional da Amnistia Internacional para a África Ocidental e Central, Samira Daoud, citada no comunicado.
Desde o segundo semestre de 2023, o Governo do Mali intensificou as suas operações militares contra os grupos extremistas Al-Qaida e Estado Islâmico e também os antigos grupos rebeldes, disse a Amnistia.
"No âmbito destas operações, o exército faz regularmente ataques com drones", acrescentou.
O recrudescimento das operações militares nas regiões de Kidal e Gao nos últimos meses levou a que muitas pessoas das regiões vizinhas fugissem para Amasrakad em busca de refúgio, referiu a AI.
"A cidade de Amasrakad encontra-se numa encruzilhada que liga as regiões setentrionais de Gao, Kidal e Menaka, onde o exército maliano, apoiado por forças pertencentes a uma empresa militar privada russa, tem estado ativamente envolvido contra o Quadro Estratégico Permanente para a Paz, a Segurança e o Desenvolvimento (CSP-PSD) e o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM)", contextualizou.
Os ataques em Amasrakad ocorrem quase dois anos após o massacre de Moura (de 27 a 31 de março de 2022), indicou.
Os soldados malianos lançaram um cerco conjunto com forças pertencentes a uma empresa militar privada russa contra a aldeia de Moura, durante o qual "pelo menos 500 pessoas foram executadas extrajudicialmente e 58 mulheres foram vítimas de violência sexual", de acordo com o Alto Comissariado para os Direitos Humanos citado pela AI.
"Ninguém foi punido, apesar da abertura de um inquérito em abril de 2022", lamentou.
Desde 2012, o Mali é assolado pela propagação do terrorismo e por uma grave crise de segurança, política e humanitária.
Os militares que tomaram o poder pela força em 2020 procederam a uma reorientação estratégica, rompendo a aliança com a antiga potência colonial, França, e virando-se militar e politicamente para a Rússia.
Leia Também: ACNUR. Sahel necessita de apoio urgente para evitar crise mais profunda