"Se o Macron tiver que brigar com alguém, é com a União Europeia, é com os negociadores. Eu estou tranquilo e vamos continuar tentando conversar com a União Europeia, mas a briga do Macron é com a União Europeia e a minha é com o Mercosul", disse Lula da Silva ao lado do seu homólogo francês, Emmanuel Macron, numa conferência de imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília.
"O Brasil não está negociando com a França, o Mercosul está negociando com a União Europeia. Não é um acordo bilateral, é um acordo comercial de dois conjuntos de países, de um lado o Mercosul e do outro a União Europeia", frisou o chefe de Estado brasileiro.
Por outro lado, Macron, que já tinha criticado na quarta-feira o acordo, em São Paulo, apelidando-o de "muito mau", voltou hoje a endurecer as críticas ao possível acordo, cujas discussões começaram em 1999, e que visa eliminar a maior parte dos direitos aduaneiros entre as duas zonas, criando um espaço de mais de 700 milhões de consumidores da União Europeia e do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia).
"Fazemos acordos comerciais hoje como fazíamos há 20 anos? Estamos só a fazer pequenas alterações. Somos loucos de continuar com essa lógica. Esses acordos são um freio ao que estamos a fazer para baixar o carbono e melhorar a biodiversidade", disse o Presidente francês.
Depois de ter sido alcançado um acordo político em 2019, a oposição de vários países, incluindo a França, bloqueou a sua adoção final, uma oposição que se tornou mais forte com a crise agrícola que assola a Europa.
Outros países europeus, como a Alemanha e a Espanha, defendem a sua conclusão e entrada em vigor.
No início do mês, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, em visita oficial ao Brasil, mostrou-se confiante na assinatura do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, apesar da oposição francesa.
Macron terminou hoje o terceiro e último dia de visita de Estado ao Brasil, naquela que é também a sua primeira visita a um país da América Latina desde que assumiu o cargo em 2017.
No primeiro dia esteve com Lula da Silva na Amazónia, subiram a bordo de um navio da Marinha e navegaram pela baía amazónica de Guajará até à ilha de Combú.
Durante a viagem, de cerca de uma hora, realizaram a sua primeira reunião de trabalho a bordo, tendo visitado de seguida um projeto de desenvolvimento sustentável do cacau.
No âmbito do encontro com os povos indígenas, Macron condecorou o cacique Raoni Metuktire, um dos mais célebres e antigos defensores da Amazónia, atualmente com 92 anos, com a Ordem Nacional da Legião de Honra concedida pelo Estado francês.
Depois do dia na Amazónia, Lula da Silva e Macron foram ao Rio de Janeiro, para uma visita a um complexo naval situado no município de Itaguaí, onde está a ser desenvolvido um programa franco-brasileiro de submarinos.
Do Rio de Janeiro, Macron seguiu para São Paulo, e chegou hoje a Brasília.
Lula recebeu Macron com honras no palácio presidencial do Planalto. A cerimónia de boas-vindas foi muito mais pomposa do que noutras visitas de Estado e Macron percorreu uma passadeira vermelha de mais de 100 metros de comprimento, entre soldados do histórico batalhão dos Dragões da Independência, até ao palácio presidencial.
Durante a conferência de imprensa, Lula da Silva condecorou Macron com o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração brasileira atribuída a cidadãos estrangeiros.
Já Macron condecorou a primeira-dama Rosângela Silva, conhecida como Janja, com a Ordem Nacional da Legião de Honra no grau de oficial.
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