Prolongamento do conflito e "protestos" podem levar à queda de Netanyahu

O analista de política internacional português Filipe Pathé Duarte admitiu hoje que, face ao prolongamento do conflito com o Hamas, Israel vai ser palco de maiores protestos antigovernamentais que podem levar à queda do regime de Benjamim Netanyahu. 

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Lusa
04/04/2024 13:54 ‧ 04/04/2024 por Lusa

Mundo

Filipe Pathé Duarte

Em declarações à agência Lusa, o também académico da NOVA School of Law de Portugal sustentou que Israel está a braços com pressões internas e externas para pôr termo ao conflito desencadeado a 07 de outubro de 2023, na sequência de um inédito ataque do movimento islamita Hamas, que deixou cerca de 1.200 mortos.

"Os protestos podem sobrepor-se a protestos anti-recrutamento, sustentados em parte pelos ultraortodoxos, que podem ser, em alguns casos, até violentos. A curto prazo, esta turbulência política, que vai ser sustentada, vai dificultar a recuperação económica de Israel e sobretudo a mobilização durante a guerra, potencialmente desencadeando talvez a imigração de israelitas que acreditam que o seu modo de vida está ameaçado", sublinhou.

"Ao mesmo tempo, esta pressão, embora para já não suficiente, pode ser impactante e pode ajudar a acabar, ou pode ajudar a derrubar o governo Netanyahu. Em resumo, acho provável que se reforcem os protestos antigovernamentais, alguns podem ser devastadores, semelhantes aos de 2023, por exemplo", acrescentou.

Pathé Duarte lembrou que Israel tem sofrido os maiores protestos nacionais desde o início da guerra com o Hamas, em que são pedidos desde um acordo imediato para a libertação dos reféns, a renúncia de Netanyahu, eleições antecipadas, confrontos em manifestações para exigir o alistamento de judeus ultraortodoxos, o que deixa a situação interna em "ebulição".

A intensa pressão política interna e externa passa, no primeiro caso, de fações que lutam pelo futuro dos judeus ultraortodoxos no país, e ao mesmo tempo uma oposição que pressiona por novos líderes. 

"Há muitos ortodoxos que resistem a entrar no exército, argumentando que a sua posição e os seus estudos religiosos são críticos para uma identidade de Israel como Estado judeu. Alguns grupos têm levado a cabo protestos e vários motins, em reação às tentativas de desconvocar. Ou seja, internamente o que nós temos são fações internas que lutam ou por novos líderes e ou pelo futuro dos judeus ultraortodoxos", sustentou. 

Externamente, o Governo também está sob uma "pressão crescente" por parte dos Estados Unidos, que tem manifestado mais veementemente a sua desaprovação relativamente à estratégia de guerra de Israel e desaprovação do atual governo. 

No entanto, quarta-feira, os Estados Unidos assumiram que o envio de armas para Israel deve-se a um compromisso de longa data com o Estado judaico e negaram que o mesmo esteja relacionado com a ofensiva israelita na Faixa de Gaza.

Segundo vários meios de comunicação social norte-americanos, a administração de Joe Biden considera aprovar a venda de até 50 caças F-15 a Israel, num acordo de 18.000 milhões de dólares (16.620 milhões de euros), apesar da pressão para cortar os envios de armas para aquele país devido às mortes em Gaza.

O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse em conferência de imprensa, que muitas informações nos meios de comunicação sobre a venda de armas a Israel correspondem a pacotes que "demoram anos para serem entregues, muito depois de terminar o conflito em Gaza".

Questionado pela Lusa sobre o ataque, a 01 desde mês, de Israel à embaixada do Irão em Damasco, Pathé Duarte considerou-o preocupante, uma vez que "vai obrigar [Teerão] a retaliar diretamente", temendo-se uma escalada do conflito no norte de Israel.

O analista português sublinhou que essa retaliação pode passar por ataques a ativos israelitas na região ou, mais grave ainda, pela realização de operações militares dentro do território de Israel.

"Tudo nos indica que pode haver uma escalada a norte de Israel, visando essencialmente o Hezbollah. [...] Desde o início da guerra, este ataque, e isto é que é importante, marcou a primeira vez em que Israel teve como alvo um complexo da embaixada do Irão", alertou. 

"E isto, de facto, é preocupante, no sentido em que vai obrigar o Irão a retaliar diretamente. E pode retaliar diretamente, por um lado, atacando ativos israelitas na região, ou até, inclusivamente, considerar a possibilidade de atacar Israel diretamente", acrescentou.

Para Pathé Duarte. Teerão terá ainda como possibilidade de, ao proceder aos ataques, pressionar os seus aliados -- milícias e outros grupos - para aumentarem as operações contra os ativos israelitas, alargando-os até aos Estados Unidos, que Teerão considera "igualmente responsáveis" pelo ataque à missão diplomática iraniana em Damasco.

"No fundo, o que o Irão vai fazer é também utilizar em benefício próprio estes ataques, no sentido em que vai, através da sua resposta, restabelecer a dissuasão com Israel, seja lá de que forma for, e também salvar a face a nível interno. Este ataque vai ter seguramente consequências e demonstra que tudo está preparado para uma escalada a norte de Israel contra o Hezbollah", concluiu.

Leia Também: Ministro israelita Benny Gantz pede eleições nacionais em setembro

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