"Depois da última ronda no Cairo, a ocupação [israelita] continua a fugir às exigências legítimas do nosso povo por um cessar-fogo abrangente, pela sua retirada da Faixa de Gaza, pelo regresso dos deslocados e por uma verdadeira troca de prisioneiros", criticou Osama Hamdan, alto funcionário do Hamas, citado pelo diário palestiniano Felesteen.
Para o dirigente do Hamas, Netanyahu "continua a colocar obstáculos à obtenção de um acordo e não está interessado em libertar prisioneiros israelitas" em posse do movimento islamita na Faixa de Gaza desde o ataque em solo de Israel em 07 de outubro.
"Tornou-se claro em todo o lado que ele [Netanyahu] e o seu governo nazi estão a tentar ganhar tempo e absorver a raiva das famílias dos prisioneiros, mostrando um falso interesse em continuar a negociação", acusou.
Hamdan disse que o Hamas se mostrou flexível nas negociações e apenas se mostrou inamovível no que considera serem exigências legítimas dos palestinianos, como um cessar-fogo na Faixa Gaza, a entrada irrestrita de ajuda humanitária e a saída do Exército Israelita do território.
A obstinação de Netanyahu, critica o Hamas, responde à sua incapacidade de alcançar as aspirações que estabeleceu quando iniciou a campanha militar no enclave palestiniano, que já deixou mais de 33 mil mortos em seis meses.
"O criminoso Netanyahu, o seu governo de guerra nazi e o seu Exército cobarde estão a afogar-se nas areias de Gaza, cambaleando no atoleiro estagnado em que se meteram. Eles não conseguiram alcançar os seus objetivos e não o farão", afirmou o dirigente do Hamas, que elogiou a "paciência e resistência" palestiniana.
Hamdan também rejeitou a informação sobre as alegadas torturas e violações sofridas pelos reféns, ao mesmo tempo que condenou os "crimes atrozes" que as tropas israelitas cometeram durante a sua operação em torno do Hospital Al-Shifa, o principal de Gaza.
"Como este mundo, com todas as suas leis, tratados e o seu sistema de justiça, pode coexistir com uma entidade desonesta e corrupta que atropela todas as leis e age como se estivesse acima de toda a responsabilidade?", questionou, lamentando o "silêncio internacional oficial" sobre o cerco do Al-Shifa.
A guerra na Faixa de Gaza foi iniciada com um ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 07 de outubro, onde fez 1.163 mortos, na maioria civis, e 250 reféns, cerca de 130 dos quais permanecem em cativeiro e 34 terão entretanto morrido, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul, estando agora iminente uma ofensiva à cidade meridional de Rafah, onde se concentra mais de um milhão de deslocados.
A guerra entre Israel e o Hamas provocou até agora na Faixa de Gaza mais de 33 mil mortos e quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que já está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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