"O povo sérvio não vai participar no próximo recenseamento falso", declarou o principal partido sérvio do Kosovo, Srpska, numa declaração publicada nas redes sociais.
Num contexto de tensões crescentes entre o Governo de Pristina e a comunidade sérvia do Kosovo, nem os dirigentes sérvios do Kosovo nem o Governo de Belgrado anunciaram ainda se esta comunidade de cerca de 100 mil pessoas vai participar no recenseamento.
As relações têm sido particularmente agravadas desde que a moeda sérvia, o dinar, foi proibida no início do ano.
Atualmente a única moeda legal no Kosovo - o euro substituiu o dinar - cuja utilização passou a ser ilegal, causando frustração em Belgrado, que não reconhece a independência do Kosovo e continua a financiar um sistema paralelo de saúde, educação e segurança social para os sérvios da região.
A última ronda de conversações entre as duas partes em Bruxelas, na quinta-feira, não conseguiu alcançar qualquer acordo.
A contagem da população é uma tarefa complexa em muitos países dos Balcãs.
As elevadas taxas de natalidade, os movimentos migratórios e as tensões étnicas complicam os esforços para obter números exatos.
As autoridades do Kosovo adiaram repetidamente os recenseamentos anteriores.
A Agência de Estatística do Kosovo (ASK) efetuou apenas um recenseamento em 2011, que foi boicotado pelos sérvios e que calculou a população do Kosovo em 1,8 milhões de habitantes.
Os funcionários da ASK disseram que esperam concluir o recenseamento dentro de seis semanas e apelaram à participação dos cidadãos sérvios do Kosovo.
"A ASK deu formação aos supervisores e recenseadores sérvios", disse Hazbije Qeriqi, diretor do recenseamento.
Hoje, segundo a Agência France Presse (AFP), na cidade etnicamente dividida de Mitrovica, no norte do Kosovo, não é aparente qualquer consenso.
"O Kosovo faz parte da Sérvia, quer eles queiram quer não. Nós aderimos às instituições sérvias. Ninguém me pode impor nada que eu não queira", disse Natasa Vujacic, 47 anos, mãe de dois filhos.
"Ainda não sei o que vou fazer. Tudo depende do que o nosso governo disser" em Belgrado, disse à AFP Zika Trajkovic, uma técnica de 33 anos.
A animosidade entre o Kosovo e a Sérvia persiste desde a guerra entre as forças sérvias e os albaneses no final dos anos 1990, que levou à intervenção da NATO contra Belgrado.
Em 2008, o Kosovo declarou a independência, que nem a Sérvia e os aliados, Rússia e República Popular da China, reconheceram.
Embora a maioria da população do Kosovo seja albanesa, os sérvios são maioritários em vários municípios do norte, perto da fronteira com a Sérvia.
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