Philippe Lazzarini falou aos jornalistas, em Nova Iorque, após uma investigação independente liderada pela ex-ministra francesa Catherine Colonna excluir que Israel tenham provado o envolvimento de funcionários da UNRWA em atividades terroristas, mas apontar aspetos a melhorar em termos de neutralidade e transparência.
"Apelei aos membros do Conselho de Segurança para uma investigação independente e responsabilização pelo flagrante desrespeito pelas instalações da ONU, pelo pessoal da ONU e pelas operações da ONU na Faixa de Gaza", insistiu o chefe da UNRWA.
"Até hoje, 180 funcionários da UNRWA foram mortos. Na semana passada foram 178. E mais de 160 instalações foram danificadas ou completamente destruídas", disse o líder da agência, na sede da ONU em Nova Iorque.
A UNRWA, que tem mais de 30 mil pessoas em toda a região, é acusada por Israel de ter "mais de 400 terroristas" nas suas fileiras na Faixa de Gaza.
Além disso, as autoridades israelitas responsabilizaram 12 funcionários desta agência da ONU de estarem diretamente envolvidos no ataque sem precedentes de 07 de outubro perpetrado pelo Hamas em solo israelita, que fez cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
Contudo, "a UNRWA não recebeu provas de Israel" desse possível envolvimento de funcionários palestinianos com o Hamas, apesar das alegações levantadas pelas autoridades israelitas.
As acusações levaram 16 países a suspender ou congelar o financiamento, privando a UNRWA de 450 milhões de dólares (quase 423 milhões de euros) e ameaçando a continuidade das suas operações, tanto na Faixa de Gaza como noutras zonas da região onde também estão presentes refugiados palestinianos, embora alguns países tenham retomado as doações desde então.
A União Europeia apelou hoje aos doadores para continuarem a apoiar a UNRWA, mas a Casa Branca apelou a um "progresso real" antes de reabrir a carteira americana, que está fechada até março de 2025.
Como resultado, a UNRWA opera com fundos limitados diariamente, tendo recolhido 100 milhões de dólares (93,4 milhões de euros) em doações privadas, "um sinal extraordinário de solidariedade no terreno", avaliou Philippe Lazzarini.
Em turbulência durante meses, o líder ítalo-suíço da agência da ONU atacou diretamente Israel, que na noite de segunda-feira descreveu a UNRWA em Gaza como uma "árvore podre e venenosa cujas raízes são o Hamas".
"O verdadeiro objetivo por trás dos ataques à UNRWA é de natureza política: é privar os palestinianos do estatuto de refugiado, começando por Gaza, Jerusalém e Cisjordânia", defendeu.
E "isto é exatamente o que ouvimos no Conselho (de Segurança) por parte do embaixador Israelita (na ONU, Gilad Erdan). É um objetivo de Estado", advogou.
Lazzarini prometeu na noite de segunda-feira "implementar as recomendações" do relatório de Colonna para resolver os "problemas de neutralidade" da agência, considerada pela investigação como "insubstituível" para os 5,9 milhões de palestinianos da região.
Mas alertou na semana passada: em caso de "desmantelamento" da agência, poderá haver uma "fome" que já ameaça o norte do território palestiniano, onde mais de 34 mil pessoas, a maioria civis, foram mortas desde o início da ofensiva israelita, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Na conferência de imprensa, Lazzarini indicou ainda que o tráfego de camiões que transportam ajuda humanitária para a Faixa de Gaza melhorou em abril e atingiu na segunda-feira um 'pico' de 360 veículos, avaliando tratar-se de "uma tendência positiva".
Lazzarini acrescentou ainda que, pela primeira vez em muitos dias, estes camiões não foram atacados por pessoas desesperadas por ter acesso à carga, como tem acontecido nas últimas semanas.
Por outro lado, alertou para o problema iminente que a falta de recolha de lixo em Gaza irá representar agora que chegam os meses quentes, questão que se tornou uma prioridade para a agência.
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