O espaço ao lado do histórico Royce Hall, onde se encontram dezenas de tendas para albergar os estudantes, está agora protegido por barricadas e seguranças e ninguém entra sem uma pulseira que é cedida pelos organizadores do acampamento.
"Esta manhã houve um protesto sionista maciço com pessoas que gritaram impropérios hediondos e desrespeitosos", disse à Lusa Kaia Shah, investigadora da UCLA e uma das organizadoras do acampamento.
"Fomos rodeados por manifestantes que gritaram insultos homofóbicos e racistas", afirmou, dizendo que foi uma "experiência traumática" para os estudantes acampados na UCLA desde quinta-feira, 25 de abril. A responsável estimou que o contraprotesto tenha reunido cerca de mil pessoas.
Quando os manifestantes pró-Israel se aproximaram do acampamento, outros apoiantes pró-Palestina não ligados aos estudantes fizeram um cordão humano para impedir confrontos físicos. Apesar da tensão, os protestos foram pacíficos e não envolveram a polícia de Los Angeles (LAPD), tendo a segurança ficado a cargo da polícia universitária.
Shah disse ainda que um grupo de cerca de trinta apoiantes de Israel tinha passado a noite de sábado para domingo a transmitir música em volume elevado para impedir os estudantes de dormirem nas tendas.
"Não queremos que isto seja um golpe mediático nem que o foco esteja em nós ou nos Estados Unidos, queremos focar em Gaza e no genocídio", afirmou a responsável.
Shah apontou para a morte de mais de 34 mil palestinianos desde 07 de outubro, data em que um ataque do Hamas a Israel fez 1.200 mortos e 240 reféns e desencadeou uma guerra de retaliação.
À volta das barricadas, a perspetiva dos pró-israelitas era diferente. Uma mãe que acompanhava o filho universitário mostrou-se chocada com os cartazes empunhados por simpatizantes da Palestina que acorreram à UCLA. "Se Israel baixar as armas, é liquidada. Se o Hamas baixar as armas, temos paz", disse.
No chão em torno do acampamento alguém desenhou estrelas de David com giz amarelo. Perto das barricadas, um contra manifestante que se identificou como Judah Fire falava ao megafone sobre o direito divino dos judeus ao território onde se encontram Israel e Faixa de Gaza.
"Deus deu-nos aquela terra para fazermos a luz brilhar sobre a escuridão", disse à Lusa, explicando que trazia "uma mensagem de paz" e acusando os estudantes acampados de serem "contra todos os judeus".
Em contraste, muitos simpatizantes pró-Palestina circularam pelo campus para mostrar apoio aos estudantes, empunhando cartazes e bandeiras palestinianas e entoando cânticos de "Libertem a Palestina".
Rocío Navarro, que era estudante quando liderou protestos contra a invasão do Iraque em 2003, compareceu para mostrar solidariedade. "Vemos o ciclo a repetir-se", criticou.
Também Abu Mus'ab indicou ter ido à UCLA para apoiar o protesto, sinalizando que a intenção é aumentar a visibilidade do que está a acontecer e levar as pessoas a pesquisarem sobre a guerra em Gaza e aquilo que apelidou de genocídio.
"Tenho muitos amigos afetados diretamente pela guerra, a perderem as casas, com familiares a morrerem", afirmou.
O estudante Jonathan Giang, que acompanhava amigos ligados ao movimento, considerou que todos os protestos são legítimos desde que se mantenham pacíficos.
"A polícia deve deixar o acampamento ficar. Eles têm direito ao protesto", afirmou, criticando a ação na Universidade do Sul da Califórnia (USC), a cerca de 20 quilómetros de distância, onde a polícia dispersou protestos e deteve 93 manifestantes.
Kaia Shah também espera que a UCLA deixe o acampamento ficar e encete negociações com os estudantes, que têm uma série de exigências.
A principal é "o desinvestimento da Universidade em empresas que estão a lucrar" com o conflito, com Shah a apontar o dedo à BlackRock e Exxon Mobil. Outra exigência é a divulgação de todos os destinatários de investimentos da UCLA.
"Esta luta não é exclusiva a uma localização ou um grupo", frisou Kaia Shah. "Estamos a lutar pela libertação de povos em todo o mundo", continuou, responsabilizando "o sistema de imperialismo ocidental".
Na USC, a direção cancelou a cerimónia de formatura depois de vetar o discurso de graduação que ia ser proferido pela estudante muçulmana Asna Tabassum, citando receios de segurança.
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