Após vários meses de negociações, o Hamas terá aceitado, esta segunda-feira, a proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza mediada pelo Egito e pelo Qatar.
A 'boa nova' foi anunciada pelo líder do grupo palestiniano, Ismail Haniyeh, que num telefonema aos governos do Qatar e do Egito, terá mostrado disponibilidade para suspender a guerra que se prolonga há quase sete meses com Israel na Faixa de Gaza.
Ainda sem o anúncio oficial, a notícia foi recebida com efusividade pelo povo palestiniano que saiu de imediato para a rua. Em Rafah, no sul do enclave de Gaza, - onde Israel planeia uma grande ofensiva militar - os palestinianos comemoraram com tiros para o ar e manifestações de alegria.
Cessar-fogo (mas pouco). Israel ainda não tomou posição
Israel veio, entretanto, negar a existência de um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, alegando que o plano do grupo palestiniano Hamas mudou em relação ao anteriormente proposto.
O plano aprovado pelo Hamas "não é o quadro proposto por Israel", segundo a fonte, que não deu mais detalhes e que falou sob anonimato justificando que as autoridades israelitas ainda estão a elaborar uma resposta formal.
Apesar disso, Israel enviará uma delegação para esgotar a possibilidade de chegar a um acordo "em condições aceitáveis", afirmou o gabinete de Netanyahu em comunicado.
Qual foi então o plano aceite (somente pelo Hamas)?
A proposta de trégua aceite pelo grupo islamita palestiniano Hamas inclui um cessar-fogo em três fases e a libertação dos reféns na Faixa de Gaza.
Na primeira fase, será aplicada uma suspensão das hostilidades por 40 dias com possibilidade de prorrogação, bem como a retirada das forças israelitas para o leste da Faixa de Gaza e para longe das áreas densamente povoadas. A proposta apresentada pelo Egito e o Qatar prevê também o regresso dos deslocados às suas casas.
O acordo estabelece que, a partir do primeiro dia do cessar-fogo, o Hamas libertaria três reféns de três em três dias, ao passo que Israel libertaria "um número correspondente de prisioneiros palestinianos", ainda por acordar.
A segunda fase do acordo inclui "o fim permanente das operações militares" de Israel na Faixa de Gaza. E na segunda e na terceira fases do acordo se realizariam negociações indiretas com Israel, através da mediação do Egito e do Qatar, sobre "as condições" para as próximas trocas de reféns por prisioneiros palestinianos.
O responsável do movimento islamita acrescentou que "a bola está agora no campo dos ocupantes israelitas", que terão de decidir se aceitam ou não os termos do acordo apresentado pelo Egito e pelo Qatar. Até agora não se conhece uma posição oficial de Israel, mas tudo indica que a 'luz verde' não está ainda acesa.
Um "apelo urgente" e o escalar de um novo conflito em Rafah
Com o impasse por parte de Israel, Guterres lançou um "apelo urgente" às lideranças de Israel e do Hamas para que façam um esforço adicional em prol de um acordo que ponha "fim ao sofrimento atual".
De acordo com a nota, Guterres "está profundamente preocupado" com a possibilidade de que uma operação militar em grande escala em Rafah possa estar iminente...e a sua preocupação não é em vão.
Enquanto se falava num possível cessar-fogo, as Forças de Defesa israelitas bombardearam mais de 50 alvos do grupo islamita palestiniano Hamas na região de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
Os bombardeamentos foram dirigidos a "locais terroristas" localizados no extremo sul do enclave palestiniano em preparação da entrada das forças terrestres israelitas no leste de Rafah.
Recorde-se que as Forças de Defesa israelitas emitiram uma ordem de evacuação para a região das zonas orientais de Rafah, na manhã de segunda-feira, afetando cerca de cem mil pessoas, num primeiro passo de uma ofensiva em grande escala contra a região, onde se encontram mais de 1,2 milhões de deslocados.
Entretanto, e ainda que a luz ao fundo do túnel ainda não seja visível, os palestinianos querem que o mundo saiba que sobreviverá até que a guerra termine.
O povo irá sobreviver à guerra no enclave da Palestina e "tudo o que testemunhámos será escrito na história", afirmou um jovem, reforçando que "já é altura de mostrarmos ao mundo que sobrevivemos depois de 212 dias de genocídio, de deslocações, de assassinatos de crianças, mulheres e idosos e até mesmo de enfermeiros e médicos".
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