Uma idosa de 100 anos de idade foi resgatada após vários dias encurralada na sua casa, durante as cheias que têm fustigado o estado de Rio Grande do Sul, no Brasil, causando mais de cem mortes.
O Notícias ao Minuto falou com uma das pessoas que participou nos esforços para conseguir resgatar a idosa, que estava acamada.
Geisson Flores, de 36 anos, não é bombeiro, nem profissional em operações de resgate, mas decidiu envolver-se nos esforços da comunidade para tentar ajudar as pessoas atingidas pelas cheias.
"Envolvi-me porque me senti no dever, por ter alguma experiência de saber me comportar na água e lidar com o 'jet sky'", explicou ao Notícias ao Minuto, revelando várias histórias impressionantes dos resgates em que tem participado.
Um deles aconteceu a 5 de maio e envolveu a referida idosa de 100 anos, que estava no segundo andar de uma casa afetada fortemente pelas cheias, acamada, e que obrigou a uma aparatosa operação de resgate.
Primeiro, foi necessário arrancar uma grade de ferro de um portão, para permitir que uma canoa pudesse chegar à casa, que se encontrava na parte de trás do terreno. Depois - tudo isto com água pelo pescoço - foi necessário retirar a senhora da casa, numa maca.
Uma vez na embarcação, foi retirada do local, em Rio Branco, Canoas, nos arredores de Porto Alegre, tal como pode ver no vídeo que acompanha esta notícia.
"Já estava lá há dois, três dias de alagamento. A cuidadora começou a chorar a dizer que já tinham passado 40 embarcações, todo o mundo dizia que ia voltar e acabavam por não voltar porque era uma situação difícil", disse Geisson.
Sobre os resgates, o homem defendeu que "os próprios civis coordenam-se melhor, às vezes, do que o próprio exército, os bombeiros". "A maioria das vezes não sabem nem o que estão a fazer. As próprias pessoas é que têm que fazer a articulação e a parte da logística", lamentou, no entanto.
Geisson explicou que, nos esforços de resgate, foi necessário criar uma "estratégia". Tem ajudado, com a sua mota de água, a puxar uma embarcação de alumínio onde cabiam entre 8 e 10 pessoas, e que era carregada, principalmente, com crianças e idosos.
"Tínhamos que fazer uma estratégia e escolher as pessoas que não sabiam nadar ou que não tinham para onde subir", explicou, acrescentando que os esforços passavam também por ajudar outras pessoas a chegar aos segundos andares das suas casas. Chegou a percorrer quatro quilómetros seguidos de casas e outros edifícios fustigados pelas cheias.
O resgate do... costelão
As cheias que fustigaram o Rio Grande do Sul, incluindo Porto Alegre e arredores, obrigaram à evacuação de bairros inteiros da cidade, para além do resgate de várias pessoas... e não só.
Geisson partilhou com o Notícias ao Minuto outra missão que levou a cabo nos últimos dias, com recurso à sua mota de água, que é, no mínimo, caricata. Não resgatou pessoas, mas sim... quatro costelões, em Eldorado, não muito longe de Porto Alegre.
"Há pessoal que está a pegar em costelão que tinha, então eu fui ajudar, fazer a logística para levar para casa de outras pessoas. Eles têm carvão lá então vão assar quatro costelões, para não estragar", explicou, acrescentando que se trata de um grupo de pessoas que optou por ficar nas suas casas, em vez de recorrer a abrigos instalados, e, por isso, necessitou de encontrar fontes de alimentação, já que a comida não tem chegado ao local onde se encontram.
"Vão ficar a cuidar a região, e vão assar e distribuir. Têm galinhas e têm um porco como mantimento", disse, concluindo: "Eles mesmo têm que fazer uma logística para se alimentar enquanto estão ali, porque os abrigos estão um caos; então preferem ficar na sua casa e ajudar-se, em comunidade".
Sublinhe-se que autoridades e voluntários continuam a trabalhar arduamente para resgatar as pessoas que ainda estão isoladas devido ao alto nível das águas e que começam a sofrer com a falta de alimentos.
O forte temporal começou na segunda-feira da semana passada e continuou nos dias seguintes, causando grandes danos em estradas, pontes, residências e deixando grande parte da população gaúcha sem luz nem água potável.
Com 11 milhões de habitantes, o Rio Grande do Sul tem sido bastante afetado pelas mudanças climáticas.
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