Washington, inabalável aliado de Israel, convocou uma reunião do Conselho de Segurança em formato 'Fórmula Arria' (reuniões informais com representantes da sociedade civil) para pedir à comunidade internacional um maior apoio contra a "impunidade" relacionada com a tomada de reféns.
Trata-se da primeira vez desde 07 de outubro de 2023 que o Conselho de Segurança da ONU se reúne -- ainda que de forma informal - para discutir exclusivamente a situação dos reféns em Gaza.
Entre os convidados da reunião estavam Shoshan Haran, que, juntamente com parte da sua família, foi feita refém pelo Hamas em 07 de outubro e teve o seu marido e irmã mortos no ataque ao seu kibutz.
Haran descreveu os horrores que viveu no período em que foi mantida em cativeiro, até ser libertada durante um cessar-fogo.
"Apelo ao Conselho de Segurança da ONU para que faça tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que a tomada de reféns volte a acontecer", instou a sobrevivente.
Esteve também presente Ayelet Samerano, mãe de Yonatan Samerano, um jovem israelita morto na sequência do ataque do Hamas a Israel, que acusou um trabalhador humanitário da Agência da ONU para os Refugiados da Palestina (UNRWA) de levar o corpo do seu filho para Gaza.
"Um desejo básico de uma mãe que carregou o filho durante nove meses, que o deu à luz, que o criou (...) é pelo menos beijá-lo antes de dizer adeus para sempre. (...) Tragam o meu filho para casa", pediu, emocionada.
O último relato perante o Conselho de Segurança veio por parte de Gili Roman, que viu a sua irmã, Yarden, regressar viva a casa após 54 dias de cativeiro, mas que destacou o impacto psicológico que esses dias de angústia causaram não só nos reféns, como nos seus familiares.
"Vocês, as suas famílias e as pessoas em Israel, nos Estados Unidos e em todo o mundo têm uma exigência simples de três palavras: tragam os reféns para casa", apelou a embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield.
"Tragam para casa todos os reféns de mais de 20 países, que foram detidos (...) quando o Hamas assassinou mais de 1.200 pessoas, violou e mutilou outras centenas, incluindo os corpos dos mortos, e raptou mais de 240 pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos", acrescentou a diplomata.
Thomas-Greenfield assegurou que Washington "não descansará" até que todos os reféns sejam devolvidos às suas famílias, salientando que fazer reféns "é uma tática covarde concebida para incutir medo, manipular Governos e promover agendas nefastas".
A embaixadora norte-americana argumentou que a libertação dos reféns "abrirá a porta" ao fim do conflito em Gaza.
A diplomata advogou ainda que a situação dos reféns do Hamas não recebeu a devida atenção por parte do Conselho de Segurança da ONU e defendeu que isso "precisa de mudar".
"Quando a crise dos reféns terminar, uma componente-chave do processo de cura será a promoção da justiça e da responsabilização daqueles que veem as vidas humanas como meras moedas de troca. (...) Portanto, devemos continuar a mobilizar o apoio internacional para acabar com a impunidade e responsabilizar todos os sequestradores", instou.
Na reunião, o embaixador israelita, Gilad Erdan, acusou a ONU de inação e pediu explicações ao Conselho de Segurança sobre não ter declarado o Hamas uma organização terrorista e não impor sanções internacionais aos líderes do grupo.
De acordo com Israel, mais de 1.200 israelitas e cidadãos estrangeiros foram mortos durante os ataques de 07 de outubro de 2023 liderados pelo Hamas, o grupo armado palestiniano e autoridade de facto em Gaza.
Até 15 de maio, cerca de 132 reféns permaneciam cativos em Gaza, segundo números citados pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Em resposta ao ataque do Hamas, Israel lançou uma ofensiva militar em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou acima de 35 mil mortes, na maioria civis, de acordo com as autoridades locais controladas pelo Hamas, e deixou o enclave numa situação de grave crise humanitária.
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